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África, mãe ou madrasta?

  • ctbretas
  • 12 de abr.
  • 17 min de leitura

Finalmente, em maio de 2018, chegou a vez de conhecer o continente africano. Escolhido pela segurança, as belas paisagens e a certeza de aventuras, o país da vez foi a Namíbia. Claro que passaria pela África do Sul, principalmente Cape Town que sempre chama atenção de turistas quando se fala em visitar a África. 

Saímos de Petrópolis na modernidade, um Uber, bem mais barato que qualquer táxi, mas a estrada estava totalmente congestionada e chegamos ao Aeroporto Santos Dumont em cima do laço, meia hora antes do vôo para São Paulo. Georgia, irmã da Andrea, já nos esperava, pronta pra aventura. Como estávamos apertados de tempo, com o anúncio de última chamada já no painel no andar térreo, foi tudo super corrido. Sou viciado em chegar cedo em aeroporto e em outros eventos, inclusive servindo de chacota para o meu filho Lucas, mas hoje dei sorte, por que foi em cima da hora mesmo.

Ao passar pela vistoria começou um drama. Tirei tudo de metal do corpo mas quando passava pelo detector, o aparelho apitava. Voltava, tirava mais coisa e novamente apitava. Até que o cara resolveu me revistar manualmente. Tudo bem, e o mais engraçado foi que o aparelho manual não apitou em nenhuma das vezes que foi usado na avaliação do fiscal. Mas, como ele quis fazer a vistoria, levantei a camisa e abaixei um pouco a calça, já puto da vida. O cara ficou mais puto ainda, achando que eu estava de sacanagem. E realmente estava. Depois de tanto apitar o detector estático e nenhuma vez apitar o manual, algo estava errado e engraçado. Para colocar a bolsa de passaporte e dinheiro que carrego na cintura (por baixo da roupa) durante essas viagens, tipo uma pochete, abaixei a calça até abaixo dos joelhos e praticamente fiquei de cueca no saguão do aeroporto, com a Andrea e Georgia morrendo de rir da palhaçada.

Tudo bem, rumo a Sampa, onde pegaríamos outro vôo para Windhoek, capital da Namíbia, com escala em Johanesburgo. Antes, no embarque do avião, nova discussão com a mala de mão da Andrea, que quase teve que ser despachada, com suas máquinas e lentes. Ela não aprende. Eu sempre falo que aquilo não é bagagem de mão, mas sim outra mala, mas ela não acredita. Ao entrar na vistoria da Federal em São Paulo, fui aprovado com louvor, enquanto Andrea, com seus dez tubos de shampoo e outros de perfume e cremes, teve problema e quase perdeu alguns, mas conseguiu resolver e seguir viagem.

Tivemos nova discussão em São Paulo, ainda na hora do embarque, com o funcionário da South African Airlines, por causa da bolsa da Andrea. Mas esse foi muito mais atencioso deixou seguir no bin, embora tenha lembrado que na volta poderíamos ter problemas no embarque.

Agora sim.... dentro do avião e rumo à África!!! Voo tranquilo e com muito vinho sul africano à disposição ...

Chegar em Joanesburgo foi diferente. As lojas com um colorido especial e muito diversificado. Artesanatos maravilhosos sendo apresentados. Tudo tinha a cara da África e suas raízes. Consegui segurar a Andrea e a Georgia e nada foi comprado. Ufa!! Mas marcaram todas as coisas nas lojas que tinham gostado. Pior é que nessas situações mulher tem memória de elefante, não esquece nada, nunca. O que chamou atenção foi o excelente aeroporto, em todos os aspectos.

Embarcamos para Namibia, depois da escala e, realmente, ao chegar em Windhoek foi de apaziguar o coração. Andrea riu muito durante esse vôo quando, após a aeromoça falar para cada um proteger seus bens pessoais que tivessem no avião antes de decolar, eu coloquei a mão no saco como se fosse jogador em barreira na partida de futebol... rsrsrsrsrrs

O Aeroporto de Windhoek é bastante acanhado, inclusive sem “fingers”, mas o volume de pessoas era realmente pequeno. Muitos aviões de menor porte.

Bastante sol, cidade tranquila e lugares pitorescos a serem desbravados em Windhoek. Ao saírmos do aeroporto, carro alugado, demos de cara com um grupo de macacos do tipo babuínos, em plena estrada. Era um bando e conseguimos tirar fotos. Tivemos que esperar saírem da estrada para continuar nossa rota, mas a região já mostrou o que viveríamos por aqui. Tudo com tranquilidade. Passeamos pelo centro da cidade, comemos muito bem e bebemos a cerveja local que leva o mesmo nome da cidade, Windhoek, maravilhosa, de puro malte. 

Rodar pela cidade é muito fácil embora o calor fosse impressionante. Mas não era abafado. O sol, de rachar. Não poderíamos deixar de ver o Centro de Artesanatos com várias lojas muito interessantes e com coisas realmente lindas. No centro, ainda visitamos o Museu Nacional da Namíbia e a Igreja cristã, bem no meio da praça, característica nas fotos da cidade. Perto tinham os jardins do Parlamento e o jardim Botânico. Ainda precisamos do carro para visitar o Heroes Acre, mais afastado do centro, mas muito interessante, além de termos visto um pôr do sol realmente fantástico.

No centro da cidade já encontramos algumas índias Himbas que cobraram para tirar fotos com seus filhos. Uma ainda perguntou quem era o homem de olhos verdes que tirava as fotos. Andrea logo se posicionou como minha mulher, mas não sabíamos que na tribo elas aceitam a poligamia. A índia falou que eu era muito interessante ...

Já no nosso Airbnb, que tinha um terreno sem construção ao lado, vimos suricatos correndo em pé, muito legal.

Saímos no dia seguinte cedo, já que o estirão até chegarmos ao Etosha Park seria bastante grande. Um sol infernal que bronzeou o meu braço direito, como acontece com um bom motorista de caminhão. Vale lembrar que os carros aqui seguem a direção inglesa, por isso o afetado ter sido o braço direito. Nessa estrada, novamente passamos por um grupo de macacos, mas nem conseguimos fazer fotos decentes. Eles se assustam demais e fogem para a mata, rapidamente. Outra coisa foi menosprezar a polícia local. Tomamos esporro porque a Georgia estava na parte traseira do carro, sem cinto de segurança. Pelo menos, não me multaram.

Ao entrar no parque de Etosha, apenas uma decepção: não ter visto elefantes no primeiro dia. Passeamos com o nosso próprio carro alugado, olhando as rotas pelo Maps me, um aplicativo de estradas excelente. Os amigos da república Caverna Country, da época da faculdade, já me chamam de operador do Maps me. Vimos zebras, girafas, raposas, rinocerontes, vários tipos de veados, gnus, avestruzes e pássaros lindos. Ainda passeamos por uma parte do parque, próximo ao Anderson Gate, onde vimos mais zebras.

Impressionante a quantidade de zebras. No começo você adora, por que é um bicho muito bonito, mas depois de um tempo, você cansa. E elas continuam aparecendo sem parar e em grandes grupos. Parecem com as moscas nos nossos parques brasileiros.

Andrea estava uma fera com a mulher do parque que não nos deixou ficar para o pôr do sol. Isso a impossibilitaria de fazer uma foto especial para esse momento. Mas enrolamos e ficamos num "water hole" mais próximo da saída do parque e conseguimos as fotos desejadas. Pena que nesse dia, naquele momento, não vimos os animais mais badalados bebendo água.

Fomos para o hotel, perto da saída do parque. Jantar maravilhoso num hotel de descendentes germânicos, Eldorado Guest Farm, com carne de caça. Adorei a carne de Blue wildebeest. Fomos descansar para estarmos prontos para novas aventuras logo pela  manhã cedo.

Primeira noite no hotel e, por duas vezes, fui acordado pelo rugir de um leão. Impressionante. A intensidade do mesmo assusta e olha que, com certeza, ele não estava na porta do meu chalé, até porque o hotel é todo cercado. Na segunda vez, Andrea acordou e ainda perguntou se eu tinha ouvido algum barulho muito forte. Brinquei falando que sim, mas que o leão já estava preso no banheiro ... Acabamos conversando sobre essa situação muito interessante vivida por seres de cidades de cimento e asfalto.

Hoje arrumamos um guia para fazer o passeio pelo parque Etosha, por todo o dia. De cara, começamos a ver vários grupos de zebras, sempre elas, springboks, gnus, girafas e blue wildebeests, que é um tipo de gnu com o rabo preto. Nada do nosso especial elefante. Era o que mais queríamos, já que sabíamos que leões são raridades de serem vistos, pelo horário de visita ao parque. Eles aparecem muito mais noturnamente, como a maioria dos felinos. Depois do almoço, ainda rodávamos pelo parque, até que, em um waterhole, que é uma piscina para hidratar os animais, e que já havíamos passado anteriormente, encontramos um elefante! Foi a maior alegria, o gigante da floresta se banhando sozinho. Logo apareceram mais três e tiramos mil fotos. Ali também consegui tirar a tão sonhada foto das girafas bebendo água. Adoro por que elas ficam em posição extrema, devido suas alturas, abrindo as pernas dianteiras para que sua boca alcance a água. Ainda vimos um rinoceronte branco no caminho do final do passeio.

Saíamos do parque muito satisfeitos, por termos visto vários animais em seu habitat. Decidi fazer um passeio por uma via que não tínhamos ido ainda, no caminho da saída do parque. Continuamos vendo zebras, girafas e springboks, além de poucos gnus. Local novo, vegetação de savana, final do dia, muito bonito, com o sol começando a cair. Altas fotos foram produzidas naquele local. Mas antes de sair do parque, resolvi fazer uma volta no waterhole perto do portão Anderson. De repente, Andrea achou ter visto um felino. Vários caminhões, jipes e carros começaram a parar junto ao nosso carro e acompanhar a marcha do majestoso, ainda distante de nós. O silêncio era de velório, mas sentíamos as pulsações cardíacas de todos ali presentes pela excitação do momento tão desejado.  Depois de alguns minutos eu vi que se tratava mesmo de um leão. Foi uma alegria, digna de gritar é campeão. Constatamos que era um leão e quatro leoas. Que prêmio recebido, já no apagar das luzes!!! Estavam indo beber água, como de costume, no final do dia, sendo que, para a nossa alegria e para as lentes da Andrea, ele passou ao lado do nosso carro, causando um frisson inimaginável. O rei da selva, todo poderoso, desfilava para uma quantidade enorme de pessoas. Todas maravilhadas com a sua imponência. Ele andava como se não existisse ninguém a fotógrafá-lo. Ou seria a sisudez para que o fotografassem mesmo? Permanecemos até conseguirmos fotografá-lo na água, no Ombika waterhole, com as leoas ao seu lado. Depois foi voltar para o hotel e comemorar. Pessoas passam anos vindo ao parque e não conseguem ter essa sorte de ver todos os animais de uma vez só.

No dia seguinte, teríamos que fazer um bate/volta até uma aldeia Himba. Seria um esforço grande também, mas Andrea tinha colocado em seu tour, o sonho de visitar uma aldeia. Consegui encontrar essa aldeia há quase duzentos quilômetros de distância do hotel.

Peguei estradas vicinais, sensacionais com veadinhos, cavalos selvagens e muitos javalis, inclusive com filhotes. Nessa estrada também foi super interessante ver a girafa correndo na savana como se estivesse disputando uma corrida com a gente, na mesma rota do nosso carro. Coisa de filme mesmo. A estrada embora fosse de terra e cascalho, era sem nenhum buraco e o carro deslizava facilmente, mesmo sem ser um 4x4. A velocidade máxima numa estrada dessas era 100km/hora. Muito interessante também foi andar quilômetros, durante horas e não cruzar com nenhum veículo. A Namíbia tem um espaço muito grande para uma população pequena. É um pais bastante seco.

Comentei que a Andrea, disparadamente, era a minha melhor acompanhante de viagem, porque nunca pergunta onde vamos ou como vamos. Peguei uma estrada e rodei uns 200km, sem nenhum posto de gasolina, nenhuma casa e sem sinal de internet. Ela não reclamou de nada. Um pneu furado ou um problema mecânico e estaríamos sozinhos e largados. Apenas um Toyota 4x4 passou por nós, em todo o trajeto e, mesmo assim, em direção contrária. Mas tivemos imagens sensacionais como lembrança.

Chegando na aldeia Himba, realmente a Andrea se acabou. Fez fotos que poderiam estar em qualquer edição da National Geographic. Esse povo continua vivendo na sua cultura, com as mulheres criando seus filhos, num regime de poligamia. Os homens são excelentes caçadores. Mas eu vi no teto da cabana, uma placa de energia solar. Foi explicado que era para terem luz. Ou seja, o progresso acaba entrando em qualquer tipo de cultura, é questão de tempo. As crianças adoravam ver suas fotos, após clicadas, no visor da máquina fotográfica da Andrea e da Georgia. 

Ali brincamos muito com a garotada, super carinhosas e divertidas. As mulheres fazem artesanatos e cuidam da tribo, enquanto os homens caçam durante o dia todo. Algumas delas super envergonhadas, mas a maioria bastante receptiva.

Muito interessante como fazem a massa vermelha que passam pelo corpo para não precisarem tomar banho e ficarem sem cheiro, inclusive nos cabelos. A água é muito escassa em todo o país. Ficam vários meses sem banho. Penteados e adornos são de vários tipos, sempre com significados para cada pessoa especificamente. Andrea ria porque algumas se empolgaram comigo, sempre as índias...

Nesse dia, ainda fizemos uma visita na fazenda em que estávamos hospedados. Felinos e hiena muito bem cuidados e em áreas quase que naturais. No jantar, comi carne de blue wildbeest, sensacional de macia e saborosa, com um purê de beterraba. Mais uma vez, a culinária desse hotel fazenda foi fantástica.

Na manhã seguinte, teríamos a maior distância de viagem desse roteiro, até Swakopmund. Serão seis horas em estradas vicinais, conhecendo o interior inóspito da Namíbia.

Foi uma viagem incrível e inesquecível. Passamos por locais inóspitos mesmo, horas sem ver uma alma viva, a não ser alguns poucos animais. Paisagem maravilhosa, um país que faz você parecer fora do planeta. 

Realmente o risco de acontecer um problema técnico existe, você ficar com dificuldades pela falta de socorro é fácil, muitas partes da estrada nem o celular tem conexão, mas vale muito a pena. Muita emoção e uma experiência ímpar. 

Georgia ficava bebendo água direto e isso não acabaria bem. Viajamos por estrada sem bar, posto ou restaurantes e a necessidade de urinar estava sempre presente nela. Paramos algumas vezes para ela sair do carro e fazer xixi na estrada, correndo o risco de animais estarem na área.

Mais uma vez, passamos por várias pontes, durante a viagem. Impressionante não existir uma ponte, nos mais de 1200km já percorridos, até hoje, que tivesse água por baixo. Todos os rios aqui são secos, pelo menos nessa época do ano. Pelo que li, em dezembro e janeiro chove demais e, depois, praticamente não tem mais chuvas no país.

Chegamos em Swakopmund no final da tarde e fomos conhecer o apart, tomar banho e almoçar. No almoço, em homenagem ao dia das mães, falei que pagaria o almoço. Qual foi a surpresa de quando eu pedi a nota: eles só cobraram um buffet porque chegamos muito tarde e a comida já não era de apresentação perfeita como eles gostam. Ou seja, o presente pelo dia das mães foi 0800, ou quase isso, porque três comeram e só pagamos por um. 

De manhã, o despertar foi livre pelo cansaço da viagem da véspera.  O tempo estava bem nublado por isso, fomos passear no shopping. Depois, rumamos de novo para a estrada, no meio do maior areal, para ver a reserva de focas, Cape Cross Sail Reserve. A estrada me lembrou muito a Barra da Tijuca nos anos 70 quando eu passeava com meu pai pela Av. das Américas. Eram dunas e muita areia nos dois lados, pista de mão dupla. 

No caminho, encontramos um navio que havia afundado e ficou preso nas areias da praia de Henties. As fotos ficaram maravilhosas. Ele permanece no meio da arrebentação e tem vários pássaros que ficam apoiados nele. Isso caracteriza muito a Costa do Esqueleto nesse país. Antigamente, devido às correntezas e ao fog, tradicional da região costeira, vários navios afundavam e os marinheiros que se salvavam do mar, morriam nas dunas, por falta de água e comida. Daí esse nome.

Chegando à reserva fomos recebidos por mais de cem mil focas paradas no mesmo lugar. Um barulho e um cheiro complicados de se suportar por muito tempo. Incrível a quantidade delas, mesmo as de dentro da água, furando e pegando ondas bem grandes, naquela água gelada da Namíbia. As focas ficam até no estacionamento, em frente ao local da entrada do parque. Foram muitas fotos antes de irmos almoçar na pequena cidade de Henties Bay, no restaurante típico local, Skubbe. Muita comida original do mar, sempre ao lado da estrada.

Dia de ralar na cidade, Swakopmund, conhecendo o pier, o porto, o museu e a Praça das Armas. A cidade é muito interessante, pequena, muito organizada, ruas largas e um centro com várias lojas. Por ser uma cidade quase que de veraneio, tem pouco movimento fora dessa época, mas se mostra em franco crescimento. Têm bons restaurantes e padarias, afinal de contas, o pão alemão não tem igual. Desde a nossa chegada todos os pães, de diferentes tipos, são ótimos, mesmo comprados em supermercados, feitos nos hotéis e lodges, ou em lojas pequenas. É impressionante a qualidade dos pães na Namíbia. Almoçamos num tradicional restaurante africano, com comidas típicas, bem no entro da cidade e valeu muito a pena.

À tarde, fomos à outra cidade perto, local onde tem o maior porto da Namibia, Wallis Bay, que inclusive era terra da África do Sul. Durante a independência da Namíbia, em 1990, a África do Sul não entregou a região do porto, por ser muito estratégico para a economia dela. Só quando Nelson Mandela assumiu o governo foi que ele devolveu a região à Namíbia. Local bonito, com muitos flamingos, pelicanos e outros pássaros, numa baía muito linda, em frente à cidade. A fábrica de sal é monstruosa e produz mais de um milhão de toneladas por ano, sendo um produto de exportação importantíssimo na economia do país.

No terceiro dia, fizemos um passeio pela manhã na cidade e o que foi engraçado foi uma senhora africana que veio conversar e falou que havia ido ao posto de saúde, mas não tinha médico e estava com dores na coluna. Na verdade, queria uma grana. Falei que era ortopedista e as queixas dela era de artrose lombar. Que, enquanto não conseguisse uma consulta, tomasse uma medicação que ela já tinha em casa. Saiu toda satisfeita por ter uma solução imediata.  Pegamos uma excursão num 4x4, voltando a Wallis Bay e também à fabricação de sal para então seguirmos para o encontro entre as dunas do deserto com as águas do oceano Atlântico. Um passeio lindo e emocionante, afinal de contas, andar de jipe pelas dunas, subindo e descendo, libera ainda mais adrenalina. Pior mesmo é subir a duna a pé, mas ainda foi pouco por não serem tão altas como as do deserto, propriamente dito. Quando chegarmos ao deserto, em Sossusvlei, a situação ficou mais complicada, quanto a isso, pois as dunas lá tem alturas de mais de quarenta metros. 

As paisagens eram lindas, o sol apareceu e fazia um contraste muito legal com as areias avermelhadas, os diferentes azuis do céu e do mar, e o brilho do sol. Ainda tivemos um lanche nas dunas, tomando prosecco e comendo um sandubão local. Também voltamos a ver animais, como raposas, focas, muitos tipos de pássaros, springboks e emas. Finalmente, não vimos zebras. O passeio durou a tarde toda e só chegamos em Swakopmund no início da noite. Banho e cama, porque no dia seguinte cedo sairíamos para o deserto, com toda vontade.

Seguimos para a estrada C14 que nos levaria até Solitaire.  Caminho maravilhoso, cheio de campo e vegetação mudando aos poucos, com animais comuns à região, como springboks, emas, ornix, suricatos e muitos pássaros. Tem uma parte que a estrada faz você entrar dirigindo num canyon bem estreito e muito legal, e depois volta para a savana. Levamos quase quatro horas na estrada, novamente de terra e cascalho, mas sem buracos. 

Paramos para a tradicional foto na placa do trópico de Capricórnio que aparece em todas as fotos de viagem pelo deserto da Namíbia. 

Um sol escandaloso nos acompanhou o tempo todo até chegarmos em Solitaire. Pausa para almoço, colocar gasolina, ir ao banheiro, e comer a tradicional torta de maçã na única venda existente nesse local. Impressionante, no meio do nada tem uma venda. A história diz que um casal, passeando pelo local, achou interessante ficar na estrada que liga Windhoek ao Porto de Wallis Bay e onde tem o entroncamento para o parque de Naluft e as dunas vermelhas do deserto. Assim, teriam um movimento razoável. Inclusive, anexaram um posto de gasolina ao local. Não deu outra coisa: sucesso na certa. Hoje tem até um lodge modesto, mas sempre cheio. A torta de maçã, muito boa, eles propagam ser a melhor do mundo. Eu posso assegurar que é a melhor daquele fim de mundo, até porque lá só existe o comércio deles.

Depois do almoço, fomos para o nosso lodge que, por sinal, era muito legal e já no caminho das dunas. Tem waterholes e muitos animais da savana em frente aos quartos com varandas abertas para todo esse visual. 

Decidimos, já que o sol estava muito bom, ir ao parque das dunas, há 62km em mais uma estrada de terra. Chegamos e já nos avisaram que deveríamos sair de lá às 18:15h, hora que o parque fecharia. Subimos a duna Eilim e, antes do sunset, começou uma ventania muito forte, levantando areia vermelha prá todos os lados. Ainda assim Andrea tirou fotos de um ornix que estava nas dunas, chegando bem perto do belo animal. Pegamos o carro e já começava a chover. Andrea conseguiu fazer fotos lindas pelo contraste na paisagem. Voltamos para jantar no hotel. 

No dia seguinte, às 5:00h, estávamos acordados para irmos realmente visitar as grandes dunas do parque e ainda o Dead Valley que fica num vale atrás da famosa duna Big Daddy. Tomamos um café rápido e partimos numa condução do hotel com mais quatro hóspedes. Chegamos lá ainda sem o sol ter nascido, mas já com uma fila grande de carros. O tempo estava ruim, mas aproveitamos o nascer do sol para fotografar umas dunas lindas, com seus contrastes e sombras, dentro daquele vermelho terra. Fomos para a duna 45, e eu, Andrea e Georgia subimos, no maior esforço. Descer é rapidinho, porque é só soltar o corpo pela areia. Depois seguimos até a parte de Sousville e vimos as dunas Big Daddy e Big Mom, além de várias fotos no Dead Valley, que se localiza atrás da duna Big Daddy. Mesmo com um pouco de chuva e tempo frio, pelo forte vento que vem do oceano Atlântico, foi um ótimo passeio. Imperdível ver essas dunas mais antigas que se conhece na história do mundo, já avermelhadas pelo tempo de existência. Ainda deu tempo para visitar o pequeno Canyon de Sesserim, muito bonito, perto do portão de entrada do parque.

Dia seguinte com mais estrada, de volta à Windhoek, pegar o avião e ir para Cidade do Cabo, na África do Sul.

Retornamos por um caminho muito diferente, pelas montanhas, entrando por um "passo", passagem, muito bonito. Era muito íngrime, inclusive por um longo período apenas usei a primeira e segunda marcha. Durante o caminho, chão de areia e pedra, passamos por grupos de ovelhas e cabras que paralisavam a estrada. Falava pra Andrea ir fotografando, pois o visual era maravilhoso, mas depois descobri que ela não havia fotografado, porque estava com medo pelas características da estrada. Achou que corríamos risco durante as íngremes subidas na montanha. Que pena. O caminho não era comumente usado pelos viajantes por ser de difícil acesso e, por isso, não víamos ninguém pela estrada. Num determinado momento da viagem, após três horas dirigindo, encontramos uma tartaruga do mato atravessando a estrada e paramos para fotografar e tirá-la do caminho. Logo à frente, encontramos com um grupo de macacos babuínos que brincavam ao longo da via, mas fugiram com a nossa presença. O dia estava lindo nesse local, com o céu azul clássico da Namíbia. Era a nossa despedida de um local magnífico e que merece ser visitado com mais frequência pelos turistas.

Pegamos um vôo muito tranquilo para Cape Town. Excelente serviço de bordo pela South African Airways e até a comida era uma delícia.

Chegando em Cape Town e o tempo meio nublado já nos preocupava, mas pudemos ver a montanha, conhecida como Table Mountain, referência para todos os viajantes. Foi a última vez que a vimos, depois a pedra se escondeu nas nuvens e a visibilidade foi embora, nem nos dias seguintes foi possivel.

No segundo dia, saímos para passear e fomos ao waterfront, excelente centro comercial, com museus, restaurantes, cinemas, passeios de barcos e etc., tudo de primeiro mundo. Acabei tendo a idéia de passearmos, excepcionalmente no ônibus aberto, sightseeing, já que sou avesso a esses passeios. Gosto de achar os locais. Como o tempo estava ruim e andar seria difícil, fizemos dois passeios com o mesmo ticket, e acabamos vendo toda a cidade. O passeio demora pelo menos uma hora cada um e realmente roda toda a cidade e seus pontos importantes. Entre os passeios, almoçamos num restaurante africano muito bom, Kurica e fomos muito bem atendidos, além de uma comida africana maravilhosa.

No dia seguinte, amanheceu com uma chuva fina. Passamos na loja perto do apart para alugar um carro, porque queríamos ir até o Cabo da Boa Esperança, pela estrada da praia, a Chapamen's Peak road. Mas, ao chegar na entrada da mesma, ela estava fechada devido à velocidade dos ventos. Chovia e a ventania era muito forte, mas resolvi arriscar indo pelo outro lado da montanha. Essa estrada interditada é como a Av. Niemeyer no Rio de Janeiro, porém mais longa, e dizem ser lindíssima. Foi uma ótima aposta ir pelo outro lado, porque ao chegar à praia dos Pinguins, Bouder's Beach, o tempo havia melhorado e o sol pintou. Conseguimos ver várias famílias de pinguins de pertinho e ir até o Cabo da Boa Esperança com muito sol e as paisagens maravilhosas dos oceanos Índico e Atlântico, se alternando. Uma experiência inesquecível para quem cansou de ler, nos livros de histórias, as aventuras para contornar tal cabo, séculos atrás.

Acabamos vendo vários bichos no parque, uma família de emas, ornix, pássaros variados e babuínos. Paramos para fotografar o tal macaco, junto com outros turistas, mas sempre dentro do carro, por serem bichos selvagens e agressivos, algumas vezes. E não é que o macaco subiu em nosso carro e ficou sentado no teto?  Deu um show especial e ainda conseguimos fotografá-lo de muito perto. Foi sensacional. Os turistas aproveitaram para fotografar o nosso carro, com o macaco no teto. Infelizmente, essa foto eu não consegui fazer. Mas ocorreu um stress com a Andrea, que na função de fotógrafa, quis fazer uma foto especial e quase que o macaco entrou no carro. Eu falando para ela fechar a janela, mas esqueceu que era um vidro elétrico e, ao fazê-lo subir, ele tem velocidade constante, e é lento. Foi por pouco mesmo.

Outra coisa sensacional e imperdível é o próprio Cabo da Boa Esperança, muito lindo mesmo. Fico imaginando as caravelas antigas passando pelos mares revoltos do local. Ainda mais impressionante era a coragem dos marinheiros na época.

Na volta, outro caminho diferente, (viva o Maps me), pelo interior da montanha, passando por penhascos maravilhosos até chegarmos ao apart, lancharmos, tomarmos mais vinho nacional e esperarmos o vôo de volta, dia seguinte, bem cedo.

Um sonho realizado e muito além do esperado. Pelas maravilhas da Namíbia e pelos belos passeios em Cape Town. Já deu vontade de voltar à África.

 
 
 

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