A Caverna pelo Chile
- ctbretas
- 17 de nov. de 2024
- 7 min de leitura
Atualizado: 13 de dez. de 2024
Esse pessoal da Caverna vive unido desde sempre. Depois de morarmos juntos por seis anos na época da faculdade numa vida de república maravilhosa com vários encontros anuais, ainda formamos uma nova família em nossas vidas e resolvemos começar a fazer viagens . A decisão merece um porém, seriam viagens curtas, no máximo dez dias, sem mulheres e filhos, afinal e contas, queríamos evitar distúrbios em nossas amizades.
O primeiro local não poderia ser diferente: Santiago do Chile e seus arredores. Lá morava um dos nossos irmãos, Carlos Patrício, o Chileno, que voltou para a sua terra depois de estudar e se formar no Brasil. Trabalhou em Petrópolis por vários anos. Mais tarde, foi ser médico na sua bela cidade de Santiago.

Combinamos num almoço de confraternização na época do Carnaval e marcamos a viagem para outubro. Durante todo o período de espera muitas conversas, troca de e-mails e organização do roteiro. Não deu tão certo assim, eu acabei viajando um dia antes e fui esperar o grupo, já em Santiago.
Cheguei à noite e o Chileno foi me resgatar no aeroporto. Prá iniciar os trabalhos fomos à uma cervejaria no centro da cidade e combinamos que no dia seguinte iriamos ao Vale Nevado, lugar de esqui próximo à cidade. Cheguei antes e merecia esse passeio. Minha sorte era que o Carlos Patrício só trabalharia no dia seguinte à tarde e teria a manhã livre.
O Vale Nevado é um passeio imperdível em Santiago. Uma mudança de visual impressionante. Enquanto subíamos a montanha passávamos de uma vegetação quase desértica para outra com arborização típica da área, isso até alcançarmos os picos nevados. Uma quantidade de curvas impressionante. Mas como não era época turística e também estávamos num meio de semana, a viagem até que foi tranquila e dentro de um prazo normal. Imaginem no auge da temporada de esqui quanto tempo deve se levar até chegar ao topo? No caminho, ainda paramos em Farellones, El Colorado e La Parva para eu conhecer esse quase condomínio exclusivo.
À tarde o Chileno foi trabalhar já que entraria de folga a partir daquele dia para cairmos na farra. Eu então banquei o turista e fui visitar alguns shoppings e andar pela cidade, que eu já conhecia por ter ido com o Lucas, meu filho, anos antes. O que impressionou ao Chileno foi a quantidade de quilômetros que andei naquela tarde... realmente eu exagerei, mas foi bom para passar o tempo.
À noite resolvemos buscar o resto da cambada no aeroporto e, como o Orelha havia alugado um SUV (ideal para podermos passear), a ideia foi ir de metrô, fazer uma baldeação para o ônibus, e assim voltarmos juntos no SUV, já iniciando a bagunça. Chegamos quase no mesmo horário da aterrisagem do grupo e no aeroporto você pode ficar no segundo andar vendo pelo vidro os passageiros pegando suas bagagens e passando pela Alfândega. O mais interessante foi ver cachorros adestrados cheirando as malas, mas não atrás de drogas, mas de frutas e comidas por serem proibidos de entrar naquele país que tem sua economia baseada nesses itens e qualquer doença frutífera trazida de fora pode se tornar catastrófica.
Logo avistamos os caras e começou a sacanagem pelo vidro. Ao saírem, Orelha foi direto ao balcão onde deveríamos pegar o carro e qual não foi a surpresa, não havia carro naquele momento liberado. Mesmo com toda briga com o prestador, começamos a sacanear o Orelha e seu potencial de organização, afinal, ele afirmava que tinha alugado o carro meses antes da viagem e ao chegarmos tínhamos apenas taxis na porta do aeroporto.
Mesmo assim, fomos para casa do Chileno, onde ficaríamos hospedados. Largamos a bagagem do grupo e saímos para comemorar no Bar Barba Azul. Um bar bem próximo, mas que tinha uma cerveja bastante gelada.
No dia seguinte, tomamos café da manhã perto de casa com “media lunas” e café de muita qualidade, embora eu só tome chocolate. Outro fator engraçado foi o Orelha pedir leite gelado e vir um copo de leite natural com pedra de gelo dentro, mas isso é detalhe regional.
Pegamos o carro em outra agência local e partimos para nossos passeios. Saímos para a região de Valparaíso e fomos parando nas vinícolas pelo caminho. Temos a sorte de ter o Batata que não bebe nada alcoólico, assim ninguém precisava se preocupar em dirigir ou não o carro. Paramos em Casablanca e Las Tablas, e ainda fizemos uma incursão numa vinícola com experimentação e aula para entendermos melhor sobre vinhos. O Batata foi o fotógrafo, embora tenha prestado atenção na parte teórica. Depois fomos almoçar em La Docas, de frente para o oceano Pacífico. Ali uma praia muito pequena com placas informando saídas de urgência em caso de Tisunami, muitos pelicanos, o mar azul forte típico do pacífico e aquele ventinho frio de sempre.

Chegamos em Viña del Mar com suas construções inclinadas na orla, muito legal. Depois de passearmos pelo litoral, fomos até Valparaíso e voltamos para o Cassino de Viña onde nos divertimos bastante mesmo sem jogar ( só o Chileno gostava). O Galo até arrisca, mas nada importante. Na volta a Santiago, a maioria dormia no carro depois de tanto vinho e cervejas.

Dia seguinte, a meta era Portillo. Saímos, quer dizer, tentávamos sair, porque por mais que ensinássemos, o Batata errava o caminho da rua do prédio até chegar na rua principal. Ele tentou três vezes antes de tomar esporro e ser direcionado, pelo Patrício, para a rota correta. Novamente na estrada, lugares super interessantes e um visual muito bonito. De repente, entramos num Canyon acompanhando um rio com suas curvas até começarmos a subir no conhecido caracoles, um grupo de curvas infindáveis para chegar ao topo dos Andes. Esse formato é para que a subida e a descida fiquem menos acentuadas além de dar um visual super interessantes para quem está passando por ela.

Lá em cima da montanha vimos a Laguna del Inca, lugar maravilhoso atrás do hotel, com uma cor azul forte contrastando com a neve ao seu redor, extasiante. Aproveitamos para almoçar no restaurante do hotel com a janela dando vista para a laguna... algo indescritível. No almoço, sempre uma festa, o Batata perguntou ao Fidel sobre de que era o risoto que ele havia pedido. Ele respondeu simploriamente: de arroz...
Desde essa pérola, não se parou mais de rir e sacanear o Fidel. Nesse hotel também tinha um cachorro enorme da raça São Bernardo e que segundo o pessoal de lá, era considerado o verdadeiro dono do pedaço, pois tinha liberdade para circular por qualquer local do empreendimento, sem restrição e quando quisesse. Deixamos de ir à fronteira com a Argentina (a fim de ter uma visão melhor do Aconcágua), por causa da burocracia e voltamos para Santiago. No caminho, escutávamos pelo rádio o jogo entre Chile x Colômbia, pelas eliminatórias da Copa do Mundo no Brasil. Era interessante a euforia dos radialistas já que o Chile vencia por 3x0. Os próprios carros buzinavam a cada gol e a viagem estava uma festa, também pelo nosso irmão Chileno, que vibrava com o resultado. Ao chegarmos no shopping para jantar o jogo já estava 3x3 e ainda bem que acabou logo...
Outro passeio muito bom foi irmos às compras num outlet, numa estrada na periferia de Santiago. Orelha e Galinha sempre entram em orgasmo numa loja e, muitas vezes, até o Fidel se empolga. Depois de marcarmos uma hora para sairmos, o grupo se espalhou e fomos nos reunindo quando nos esbarrávamos entre as lojas. Resolvemos, antes de ir para a vinícula Casilero del Diablo, bem tradicional e super famosa, fazer um lanche no meio do caminho. Cada um pegando um sanduba ou pedindo um combo. Fidel escolheu um sanduiche de salmão, peixe muito usado na alimentação daquele país. Ao morder o pão achou o gosto estranho e, prá continuar a sacanagem com ele, a escolha havia sido de um sanduíche de “jamon”, ou seja, de presunto e não de salmão como ele pensava. Ele confundiu tudo, com o seu “maravilhoso” espanhol sem sotaque.

Chegando na Viña Concha e Toro fizemos a visita ao local e participamos de outra aula sobre harmonização e experimentos de vinhos com um sommelier local. De cara já era engraçado por que além de nós seis, tinham quatro chineses que só faziam merda. Um deles comeu todo o pão e os queijos antes de experimentar o vinho. Pelo nosso lado, além da disputa para saber quem iria tomar os vinhos do Batata, ainda teve o comédia do Chileno que em vez de pegar a taça com água para tomar um golão antes da aula, matou a sede erroneamente com um vinho branco e se engasgou.
Na saída, passamos no bar da vinícola para mais uns goles e tivemos a honra do Galinha, o rico do grupo, por ser anestesista, nos “presentear" com uma taça de Alma Viva, um vinho bastante caro. Após o oferecimento, por educação apenas, todo mundo resolveu beber um gole da taça dele, até mesmo o Batata, afinal de contas, era um vinho muito bom. Pobre do educado Galinha, tomou muito pouco do seu vinho.
Como o Fidel teria que estar de plantão no dia seguinte ele iria ser levado ao aeroporto um dia antes do grupo. Antes porém, tivemos que realizar o seu desejo de comer um cordeiro patagônico. Descobrimos um restaurante especializado nisso, mas nem o Chileno conhecia o tal restaurante. Fomos à noite e o local era no meio de uma favela, mas muito bom e bem frequentado. Valeu a pena o jantar, com os cordeiros sendo assados espetados numa brasa no lado de fora do salão que, ao mesmo tempo, servia de aquecimento para o frio que fazia.
Outro dia de muitas visitas aos parques e centro histórico com todos os palácios, igrejas e shoppings para ultimas compras, já que iriamos embora no dia seguinte. Orelha queria comer uma centoya no Mercado Municipal, mas estava muito cheio e resolvemos comer no centro de artesanato da cidade.

Largamos o Fidel no aeroporto e depois fizemos uma festa de despedida na casa do Chileno com muito vinho, queijos e pães.
No dia seguinte, acordamos e nos despedimos rumo ao aeroporto e, adivinhem, o Batata errou o caminho de novo para sairmos da casa do Chileno e pegar a autopista Costanera Norte até o aeroporto...
No aeroporto, o Orelha com excesso de peso e não querendo pagar o peso acima do limite, se irritava com a menina do balcão. Falei para a funcionária da empresa Gol que ele era meu filho com o Batata e, assim, com essa brincadeira, quebramos a má vontade dela em dividir o peso entre os três... Prá variar, a minha mala era quase um saco vazio e nem chegava perto do limite.
Ahhh, esqueci de falar que o Fidel, que voltou antes da gente, pagou excesso de peso na véspera...
Agora é aguardar o próximo churrasco e decidir o local a visitar no próximo ano porque essa ideia de viajar entre amigos não vai acabar.
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