AAOS- Orlando
- ctbretas
- 25 de ago. de 2024
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Outro sonho, desde o final da residência em ortopedia, ir ao Congresso Americano de Cirurgiões Ortopédicos (AAOS). O maior do mundo e com uma feira de materiais ortopédicos fantástica. Tem de tudo, literalmente, que um ortopedista precisa ver e aprender, já que a nata dos médicos mundiais dessa especialidade também se faz presente. Foram mais de nove mil médicos ortopedistas no evento daquele ano vindos de todos os lugares do mundo.
O ano era 1994, logo após o início do plano real onde houve uma mudança drástica na nossa economia, e prá quem não viveu essa época, ou não se lembra, o valor do real era 84 centavos do dólar. Ou seja, o real valia mais e, por isso, tudo nos EUA ficou baratíssimo. A própria viagem custou, numa promoção de voo fretado, apenas $350 dólares que, em real significava menos de trezentos reais. Uma época de ouro para quem podia fazer viagens e realizar seus sonhos pelo mundo todo.
Como tinha voltado do período de especialização em Chicago em 91, tive um trabalho apresentado pelo meu preceptor, no ano anterior, nesse Congresso. Nesse ano teria outro trabalho a ser apresentado, mas agora na condição apenas de coautor. Isso também se tornou uma realização pessoal. Tudo era desculpa para mais uma viagem.
Resolvi viajar em companhia de um ortopedista amigo aqui de Petrópolis, Nivan Brand, colega que trabalhava no grupo de ortopedistas do Hospital Casa Providencia. Tínhamos feito residência juntos no Hospital Jesus, no Rio de Janeiro.
Nivan tinha um contato muito bom com uma agencia de viagem e arrumou um pacote de voo Rio – Miami e a volta Orlando – Rio, evitando assim quilometragens extras de estrada para retornar. Sairíamos da cidade do congresso, sem voltar a Miami. O preço era uma pechincha, como falei acima, já que era uma empresa com voo fretado, sem marca alguma na aeronave. Emoção à vista desde o vôo de ida. Ainda de carro, conheceríamos uma grande parte da Flórida.
Em Miami ficamos em um hotel bem em downtown e, como estávamos com carro alugado, ficou fácil andarmos pelos locais desejados como praias, bairros específicos e shoppings. O maior problema foi que a minha mulher, naquela época design de modas, me encomendou um scanner de mesa. O aparelho era enorme, (fase inicial da informatização) e, por isso, tive que colocar numa nova mala e torcer para que não me parassem na alfandega na volta ao Rio de Janeiro. Consegui entregá-lo em segurança e sem pagar nada mais por isso, só que o preço pela procura do scanner e por trazer essa geringonça, nunca foi solucionado entre nós.
Como o congresso era em Orlando, começamos nossa viagem aproveitando os arredores de Miami. Belas praias, bares e distritos como Cocunut Grove, Vizcaya, Key Biscayne, entre outros. Descemos pelo litoral, até alcançarmos Key West. Embora seja um caminho único (a volta é pela mesma rota), tudo é muito bonito, com sol, mar e várias pontes, onde tivemos a oportunidade de conhecer pequenas cidades que vivem apenas dos prazeres do mar. Seguimos até alcançarmos a pequena, mas aprazível última cidade americana nessa rota. Muitos bares, praias e casas agradáveis, além de passeios de barco e mergulhos em oferta por todos os cantos. É o ponto mais próximo a Cuba, o que na época ainda era visto como um lugar indesejável pelos americanos porque muitos cubanos alcançavam a América por aquela área. Para esses aventureiros o importante era largar a ilha para trás.
De lá, subimos para o local do congresso, mas antes de alcançarmos Miami, entramos pela via 41 e passamos pelo meio do Everglades National Park. Várias sinalizações de perigo. Cuidado com os crocodilos! Mas não vimos nenhum na estrada. Foi bastante interessante passar por esse trajeto, típico pântano dessa área da Florida. Cruzamos Naples, Cape Coral, até alcançar Sarasota. Cidades de praias calmas e águas quentes, já dentro do Golfo do México e com um visual muito bonito. Como em quase todas as cidades litorâneas dos EUA, várias marinas cheias de veleiros e lanchas faziam o visual ser ainda mais deslumbrante. Alcançamos Tampa, outra bela cidade que eu já havia conhecido numa viagem anterior, mas era caminho obrigatório para atingirmos Orlando.
Conseguimos um hotel bem em conta na International Drive, rua cheia de hotéis e shoppings e muito perto do Centro de Convenções, onde ocorreria o congresso. Muitos restaurantes por perto facilitavam mais ainda a nossa vida.
Como era final de fevereiro, dias lindos e de um frio agradável, mas que ainda exigiam casacos. Como o congresso começaria cedo no dia seguinte, aproveitamos para descansar desse período de viagens de carro.
Realmente, valeu muito a primeira experiência num congresso Americano de Ortopedia. Quase dez mil ortopedistas do mundo inteiro e um showroom monstruoso. Palestras em mais de doze salas simultâneas, locais de vídeos e salão de conferências. Foram três dias em que aprendemos muito. Íamos aos shoppings, depois das palestras, claro, assim como jantar no centro de Orlando.
Um dos dias, na hora do almoço, como tinha um heliponto em frente ao nosso hotel alugando passeios de helicóptero, resolvi sentir essa emoção. Era um aparelho do tipo bolha, sem as portas de acrílico nas laterais. O piloto perguntou se era minha primeira vez e, por isso, eu teria uma aula inaugural, já dentro do aparelho. Primeira coisa que falou foi que se o aparelho caísse eu deveria correr para frente e nunca para a lateral... caraca, isso é coisa que se fale prá quem nunca andou de helicóptero? E como primeira informação a ser dada? Queda? Bom, começou o voo e realmente o visual da cidade de Orlando pelo alto é muito bacana. A rota era voar sobre os parques, mas o piloto, talvez de sacanagem, só fazia curva para o meu lado. Imaginem as curvas para o meu lado, a cabina sem porta … a impressão era que eu cairia do aparelho a qualquer momento, mesmo com cinto de segurança …
Eu me segurava na borda superior da bolha fazendo força, porque ainda que o cinto funcionasse muito bem, o medo era bem maior. Mesmo assim aproveitei bastante, minha única experiência aérea numa bolha voadora. Nivan não se aventurou nessa e, quando pousei, ele já estava deitado no quarto do hotel.
Aproveitando o carro e alguns horários vagos no congresso, dei a ideia de passearmos para o norte do Estado, até por que eu ainda não conhecia essa área. Subimos para Daytona Beach passando no autódromo famoso e conhecido mundialmente pelas corridas de Stock Car. Realmente um ponto turístico sensacional e imperdível. As praias não são diferentes de outras da Flórida com areias brancas, mar calmo e um belo azul. Subindo mais ao norte, chegamos à cidade de Saint Augustine.
Essa cidade é linda e aconchegante. A primeira cidade fundada nos EUA, em 1565. Tem uma população muito pequena, mas as praias eram muito boas e com ótimos restaurantes. Dalí saímos para Jacksonville, a maior cidade ao norte do estado, com quase um milhão de moradores, naquela época. Lugar bastante agitado e já com movimentação de cidade de grande porte, mas com características interessantes.
Como estávamos quase na divisa entre a Florida e a Georgia, o Nivan quis, pelo menos, passar para o próximo estado americano só prá matar a curiosidade. Fomos até a primeira cidadela chamada de Kingsland. Era quase uma vila, sem muitos atrativos turísticos, mas uma típica cidade do interior da Geórgia, onde almoçamos e depois seguimos viagem de volta pelo centro do estado da Flórida, por Gainesville e Ocala. Vimos vários laranjais, típicos dessa região, e seus bonitos lagos. Ao voltarmos para o Brasil, o programa Fantástico da Rede Globo noticiou que na cidade de Kingsland, havia uma seita religiosa que fazia sacrifícios com cobras. Se soubesse dessas coisas jamais teríamos passado a divisa da Flórida.
Claro que acabamos indo aos parques da Disney porque não dá para chegar a Orlando e não ir às principais atrações da cidade. Eu já tinha visitado duas vezes antes, mas sempre tem alguma novidade. E sempre um passeio muito legal.
No balanço da viagem, muitos lugares interessantes, bonitos e um congresso realmente fantástico. Mas o mais interessante foi viajar com o real valendo mais que o dólar. Fazer compras exageradamente (mesmo eu que não sou chegado a isso), porque o que já era normalmente, barato por lá, estava ainda muito mais barato... Irresistível! O Lucas, meu filho, era recém-nascido à época e levou uma enorme vantagem na quantidade de presentes. Interessante que ao comprar roupas prá ele num outlet de lá, uma americana chegou perto de mim e disse que alguém iria gostar muito quando eu voltasse prá casa pela quantidade das minhas compras no caixa. Acho que exagerei mesmo …
O avião, sem sigla, fretado como falei no início, na volta parecia um ônibus de São Paulo com destino ao nordeste do Brasil. Lotado de bagagens. Nunca vi tanta coisa fora do bin do avião, sem falar na quantidade de malas despachadas pelos passageiros. Se os ursos, Patetas e Mickeys de pelúcia, enormes, contassem como passageiros, teríamos com certeza mais do dobro de pessoas embarcadas comparado ao número de assentos.





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