Decisão pela Liberdade
- ctbretas
- 7 de mai. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 11 de jun. de 2024
Tomar a decisão de ser independente é fundamental para a vida de qualquer pessoa. Só assim, ela poderá seguir seus passos, no ritmo e para os lados que bem quiser. Tomar essa decisão aos 13 anos é um pouco mais difícil e improvável. Claro que com essa idade eu
sabia que não seria dono do meu nariz, afinal de contas, era totalmente dependente financeiramente dos meus pais. Ainda assim, já queria tomar decisões que me fizessem bem, e claro, fazer o que eu mais gostasse.
Pais sabem que um dia os filhos não vão querer mais viajar com eles, mas a precocidade da minha decisão não era comum. Tinha que acontecer comigo. Sempre achei estranho famílias com casa de campo, sítios, fazendas, onde frequentemente todos tem obrigação de viajar juntos, quer para finais de semanas, feriados ou mesmo períodos de férias... sempre para o mesmo local. Eu sempre preferi as minhas atividades no Leblon e a praia a ficar junto com amigos em locais sem o meu interesse. Vale lembrar que ficar na praia do Leblon, eu que morava a cem metros da areia, era um paraíso, meu sonho de consumo naquela época, finais dos anos 60, trocando qualquer outra situação pelo agito das areias e das ondas.
Meu pai sempre dizia que uma característica muito forte em mim era a independência. Sempre respeitei as decisões de “superiores”, como pais, avós, treinadores e professores, mas mantinha minha posição quando achava que estava certo. A decisão foi amadurecendo de acordo com as obrigações que me eram determinadas com o crescimento. Eu sou o filho homem mais velho da família de quatro irmãos, e, portanto, as tarefas que necessitavam esforços e empenho eram sempre designadas a mim. Pegar as malas, comprar jornal, correr na farmácia, pegar chave do carro, buscar a toalhas no quarto e várias outras coisas, comuns de ocorrer numa viagem.
Viajei muito com meus pais na infância e pré adolescência, sempre pelas cidades serranas do Rio, região dos Lagos, Circuito das Águas em Minas Gerais, e para São Paulo. Passava longas temporadas em Itatiaia, Penedo, Visconde de Mauá e Nova Friburgo, quer nas férias de verão, como nas de inverno. Meu pai gostava e podia nos proporcionar períodos agradáveis fora do Rio de Janeiro. Era muita alegria porque na maioria das vezes minha avó Ana, por parte de mãe, que morava em São Paulo, vinha para viajar conosco, auxiliando minha mãe a tomar conta dos quatro filhos.
Numa dessas viagens, passando férias na Fazenda Três Pinheiros, perto de Resende, tive uma grande alegria. Minha avó me ensinou, aos sete anos, a andar a cavalo sozinho, o que foi um dos meus grandes feitos. Meu pai permanecia trabalhando no Rio de Janeiro, já que não conseguia conciliar as suas férias com a da molecada, mas aparecia nos finais de semana para curtirmos juntos.
Os locais tinham que ser divertidos para os quatro filhos, com idades com idades variadas, sendo que essa diferença de idade e sexo por algumas vezes dificultava a harmonia. Quase sempre íamos para hotéis fazenda, locais onde tínhamos liberdade para nos divertir com muitas crianças juntas. A liberdade exista, contanto que estivéssemos presentes para os horários normais de almoço, jantar e lanche.
Essa época era muito esperada pelos quatro irmãos. Assim saímos da rotina de apartamento e das brincadeiras específicas dos blocos onde morávamos. Demos sorte de morar durante um período, depois de vir de São Paulo, em um conjunto de dois blocos na Muda, um canto da Tijuca, onde existia uma quantidade enorme de crianças de todas as idades. Eram muitas as brincadeiras na rua, naquela época com pouco movimento de carros, e nos pilotis dos prédios. Até campeonato de futebol rolava, sem falar que foi nesse espaço todo que aprendi a andar de bicicleta.
Fomos crescendo e mudamos para a praia do Leblon. Eu tinha oito anos. As atividades nesse paraíso que é a praia, começaram a fazer frente aos hotéis, cavalos, passeios na serra e outras aventuras. Já tinha amigos, jogava futebol pelo time do posto de Salva Vidas, posto 11, fazia treinamentos para botinho (mini salva vidas) e pegava ondas com prancha de isopor. Convenhamos, valia muito mais a pena ficar na praia a ser “explorado” numa viagem em família.
Comecei a me chatear com algumas situações em que era solicitada a minha participação durante as viagens. Pré adolescente reclama de tudo. Aquilo realmente me aborrecia. Não por ajudar, mas porque o que deixava no Rio era muito melhor do que eu viveria naquelas viagens. Férias, sol, praia, futebol, bicicleta, sem horário de colégio para me limitar, era tudo que eu já precisava.
Minha independência começou por que como gostava muito da praia, quando minha mãe e meus irmãos iam para São Paulo passar férias, e visitar a família de lá, eu preferia ficar no Rio. Meu pai bancava a situação, afinal de contas, tínhamos empregada para fazer o almoço. Mais tarde, quando ele chegava do trabalho, assumia o controle. Eu ainda tinha onze anos. Passava a maior parte do tempo na praia, o que para mim era tudo de bom.
Aos 13 anos amadureci uma ideia que já vinha me martelando há tempos. Não queria mais viajar com a família, mas sim ficar de boa nas areias do Leblon. Meu pai, sempre muito justo, era homem de poucas palavras, mas que sabia ouvir. Sempre teve sábia noção dos fatos, embora não tomasse decisões boas para com ele próprio. Sempre tive a ideia de que o Brêtas (assim o chamava por causa do nome de guerra no Exército), era o tipo de pessoa para fazer o que ele falava, mas nunca o que ele fazia. Eu já viajava com famílias de amigos com alguma frequência para finais de semanas.
Quando tinha onze anos passei um mês no interior do Paraná, perto de Conselheiro Beltrão, na fazenda de café de um amigo da escola, Alexandre Lucena, com nosso amigo em comum, Eduardo Cardoso.
Chegou o verão, a época do Carnaval, e eu queria ficar na praia. A viagem para a serra do Rio de Janeiro já estava armada. Então fui conversar com meu pai sobre a minha possibilidade de não participar, mostrando a ele que para mim, valeria mais a pena ficar na praia. Nessa época eu já jogava basquete pela equipe infantil do
Flamengo e tinha meus horários de treinos. Tudo foi tranquilo, afinal de contas, meu pai sempre soube que eu era bastante responsável. Disse que eu poderia ficar, mas teria que me virar sozinho com a comida e cuidar das cachorras, Marie e Princesa, duas cockies spaniel inglesas que viviam com a gente. Naquela época, o Ministério Público não proibia a criança de ficar desacompanhada... rsrsrsrsrsrsrr. Meu pai sabia que logo eu iria para intercâmbio, vontade que eu tinha isso na cabeça desde pequeno, e teria que me acostumar com situações adversas, e resolve-las sozinho. A minha resposta foi rápida e objetiva. Trato feito. Conseguiria almoçar na casa de amigos, da minha mãe já separada nessa época, ou da irmã do meu pai, tia Vera, que morava em Ipanema. Ainda poderia me salvar fazendo eu mesmo um sanduba em casa. Na volta dessas férias familiares de uma semana para o Carnaval, encontraram a casa inteira, as cachorras vivas e nenhuma queixa feita pelos porteiros. Vitória!!!
Assim, finalmente passei a controlar as minhas férias conforme eu queria, e nunca mais precisei levar malas, comprar jornal, correr no parque prá chamar minha mãe, pegar chave na portaria do hotel, ou procurar algum irmão.
Desde o começo viajei sozinho, com a esposa, somente com o filho, com grandes grupos de amigos e pequenos grupos também. De trem, carro, avião, balsas, em hotéis, hostels, apartamentos, mas sempre focado na viagem.
Os relatos a seguir darão força e vontade prá você se soltar pelo mundo, com a certeza de que cada viagem aumentará seu aprendizado, sua cultura, e seus sonhos...
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