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Estados Unidos para Especialização

  • ctbretas
  • 30 de jul. de 2024
  • 22 min de leitura

 

Após meu período de residência no Hospital Jesus, no Rio de Janeiro, surgiu uma oportunidade de fazer uma especialização em Chicago durante a temporada de 90-91, num hospital pediátrico fantástico, o Children’s Memorial Hospital, sob responsabilidade da

Northwestern University, o que seria tudo de bom para a minha formação em ortopedia infantil. Seria tutorado pelo MD Luciano Dias, um paulista que tinha feito a vida profissional nos Estados Unidos. Ortopedista de altíssima qualidade, assim como os demais

professores daquele hospital. Era com certeza um lugar top entre os melhores do mundo na minha sub especialidade em Ortopedia...

Como já havia casado com a querida Andrea, combinamos que já que iríamos para Chicago era melhor passearmos antes de chegarmos à cidade dos ventos. Estaríamos com menos bagagem do que na volta, com certeza, além do tempo durante a estadia ser

tomado pela pós graduação, com trabalho e estudo sem muita folga para passeios longes. Outra coisa também, meu espírito de viajante não deixaria passar a oportunidade ao morar nos EUA e não fazer uns passeios em suas várias regiões, para conhecer um pouco mais sobre o país e sua cultura.

Comecei a programar, e como na época não tínhamos internet para avaliar e reservar hotéis, como fazemos hoje, a empolgação pelo improvável já estava alta, no extremo. Havia um consenso para irmos à Hobbs, no New México, visitar as famílias com quem eu

havia morado durante o período de intercâmbio em 1976. Inclusive Andrea havia conhecido os pais da família Ross, Kathleen e Horace, que vieram ao nosso casamento em 1988. 

Feito o roteiro, que era um sonho, tivemos problemas com a empresa de turismo, que não confirmava as passagens, já pagas, das nossas várias escalas. Só resolvemos porque como o gerente era muito amigo de minha mãe ele me deu em dinheiro as escalas

que eles não haviam confirmadas após o acerto inicial. Com isso fiquei com mais dinheiro na mão, e com poder de mudar o itinerário, como realmente acabou acontecendo. E vocês achando que problemas com empresas de turismo é coisa só de hoje em dia...

Saímos então em agosto, logo após o meu aniversário, e ainda no verão americano, com destino à Miami, porta de entrada natural para nós brasileiros. Como o dinheiro não era folgado, e a passagem anual muito cara, encaramos a viagem pela LAP, Linhas Aéreas Paraguaias. Quem se lembra dessa empresa? Os aviões nem eram tão ruins, mas saía do Rio e fazia uma escala em Assunção, de apenas algumas horas, ou seja, começaríamos a viagem andando, quer dizer voando, para trás. Depois de algumas horas no aeroporto, começarmos a viagem para a América do Norte.


A) MIAMI:


Em Miami ficamos num típico Motel, perto do centro da cidade, e passeamos bastante por Downtown, Miami Beach, Viscaya, Cocunut Grove, Biscaya e Coral Gables. Não

estávamos interessados em fazer compras por causa do longo tempo que teríamos em Chicago, então a viagem foi apenas para conhecer mesmo a cidade, e aproveitar os

locais. Como eu já conhecia vários locais, levei a Andrea aos pontos turísticos da cidade e arredores. Andamos muito, mas conhecemos legal usando bastante minha experiência na

cidade. Depois de alguns dias fomos a Orlando, e encontramos um casal amigo da Andrea, que tinha um filho pequeno, ainda no aeroporto. Fizeram companhia, inclusive ficamos no mesmo hotel, mas na verdade foram uns dias sem nenhum entusiasmo, a ponto de em plena Disneyworld a mulher, amiga da Andrea, querer ir embora porque estava

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chuviscando e poderia estragar o penteado da figura. Pelo menos nessa hora o marido não foi no papo dela e continuamos com chuva e tudo. Passeamos muito mesmo, fomos a todos os parques da época, Downtown, Kissimmee, Tampa, e o tempo passou muito rapidamente, afinal de contas Orlando realmente é um local de diversão, e por isso o tempo voa. O fato mais marcante nessa cidade foi ver Andrea chorando ao ver na entrada da Disney o castelo da Bela Adormecida. Era um sonho de criança, segundo ela, ainda mais naquela época que não era tão fácil assim ir aos Estados Unidos. Poucas crianças conseguiam realizar essa visita, diferente de hoje em dia. Claro que teve fotos com um número enorme de personagens dos desenhos da nossa época, principalmente com o Pateta, o meu preferido, talvez por questão de identificação pessoal mesmo. A quantidade de parques nessa região é impressionante e tem que aproveitar mesmo... Aproveitamos que estávamos com amigos que tinham alugado um carro e jantávamos em Downtown, e fizemos passeios em vários parques. Todos valeram demais o tempo que passamos nessa cidade.

 

B) New Orleans:


Saímos depois desses dias, já sozinhos, para New Orleans. Eu já conhecia a cidade e tinha adorado, então nada mais certo do que voltar a ela e mostrar a minha mulher aquele

lugar mágico. Chegando ao aeroporto procurei um hotel que por ser barato não seria em Downtown, mas que facilitasse a ida ao centro, em especial ao French Quartier, o local mais

“in” em diversão na cidade. Como o dinheiro era pouco achei um tipo motel de estrada, mas que tinha transfer para o centro 24h/dia, e de graça. Chegamos e fomos para o quarto, perto

da piscina, pequena é claro, mas não podia deixar de valorizar o hotel naquela hora, embora Andrea olhasse meio que desaprovando. Deixamos as malas e fomos ao centro.

Passeamos demais, nas ruas com suas mansões antigas, pelo Rio Mississipi num barco típico à vapor, com rodas em pás, almoço com comida boa e voltamos ao hotel para tomar

banho e trocar de roupa. A noitada de música, muito jazz, e alegria na cidade, em Bourbon Street, era a meta. Na hora de sair à noite descobrimos que o hotel era base de um puteiro,

com uns caras enormes com roupas super coloridas e chapéus enormes, acompanhados por mulheres com roupas mínimas, e um grupo barulhentos demais. Andrea se

assustou, mas saímos rápido para pegar o transfer. 

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Jantamos comida crioule, maravilhosa, tomamos cervejas e fomos a vários bares da Bourbon Street e seus arredores, claro sem deixar de ir ao Superdome, na época o maior ginásio esportivo do mundo, e terminamos a noite no Café du Mond, o bar que nunca havia fechado desde a sua inauguração, funcionando por 24h diariamente, no centro do French Quartier. Falei que nunca tinha fechado, até que o furacão Katrina, em 2005, inundou toda a cidade e acabou com essa tradição. Vários shows de jazz aconteciam nas esquinas, dando mais brilho e alegria à noitada daquele lugar, além de que sempre

dentro dos bares a música rolar solta. Na hora de voltar ao hotel Andrea ficou ansiosa pelo o que acharíamos por lá, mas passamos rapidinho pelas pessoas e entramos no quarto,

mas sem nos esquecer de travar bem a porta.

Na manhã seguinte Andrea ligou para uma amiga que morava na divisa do Mississipi, perto de New Orleans, e a mesma foi com o marido nos pegar para passear, mas ao ver onde

estávamos pegaram nossas bagagens e nos levaram, depois do passeio, para a casa deles em Gulf Port. Era uma cidade de praia, mas muito pequena, e o casal morava num Town

House no meio de um campo de golf. A vista era linda, com a grama super bem tratada, muitos esquilos correndo e subindo nas árvores, e ainda mais com aquele barulho do taco na bolinha. Foi demais mesmo passar o final da tarde naquela situação, além do que nos livrando de uma nova noite naquele hotel de segunda categoria.


C) California:


Voamos no dia seguinte para Los Angeles, com todos seus encantos e riscos. Ao chegarmos ao aeroporto decidimos alugar um carro, afinal de contas tínhamos que passear muito, e eu ainda queria ir a San Diego, além de também visitar uma irmã da época do intercâmbio, que estava vivendo em Valência, cidade pequena ao norte de LA. Como naquela época não tínhamos cartão de crédito internacional no país, eu devo estar velho mesmo, tivemos que alugar em uma empresa “ilegal”, de mexicanos, e deixando dinheiro como depósito que seria devolvido no retorno. A loja era bem atrás da pista do aeroporto, e observei um show sensacional de aviões subindo e descendo, praticamente sem intervalo, num ritmo sequencial enlouquecedor. Realmente ali o aeroporto não para de respirar um minuto no dia. Um carro em Los Angeles é fundamental, ainda mais para realmente conhecer os locais interessantes. Passeamos por Santa Mônica, UCLA, Hollywood, Rodeo Drive, Beverlyhills entre outros locais do centro da cidade, e no final do dia nos

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dirigimos para a cidade de Valência. Descobrimos que existia naquela cidade o Six Flags de montanhas russas, um parque de diversão fantástico, e este, em especial, era especializado

nessas aventuras com montanhas enormes. Passamos o dia naquele playground de adultos, por que as montanhas russas eram realmente impressionantes e aterrorizantes para muitas crianças. Me lembro bem de ter sido a primeira vez que andei

no free-fall, aquele brinquedo que caí em queda livre até dar uma freada antes de alcançar o chão. Ao saímos do brinquedo a Andrea, super estressada, chorava demais,

compulsivamente, do medo que havia sentido naquele brinquedo. Mesmo assim andou em várias montanhas russas para me acompanhar. 

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Depois indo para a casa da Adriene Ross, minha irmã na época de intercâmbio, o dia já havia escurecido e eu não sabia onde ligava o farol do carro. Penei, parei num drive thru

de lanchonete e um cara acabou descobrindo. Várias pessoas chamavam a nossa atenção por estar dirigindo no escuro sem o farol ligado, mas realmente eu não sabia onde ele ligar.

Coisa comum de acontecer quando alugamos carro no exterior, sem perguntar o básico na hora de tirar o escolhido. Cada carro tem suas particularidades, e com essa situação

aprendi a perguntar sempre as coisas básicas do carro antes de sair da loja, e parar de sofrer.

No dia seguinte saímos cedo da casa da Adriane, para não pegarmos trânsito, já que planejamos ir até San Diego. Fomos descendo pelo litoral, passando por Long Beach, Huntington, Dana Point, Carlsbad e LaJola, todas praias que eu conhecia

apenas pelas revistas no meu tempo de surfista, e chegamos

a San Diego. Excelente cidade, tanto a parte nova como a antiga. Um

jardim zoológico sensacional e praias realmente únicas. Muitos passeios interessantes, principalmente no Zoo e na Old Town, locais imperdíveis para quem for visitar esta

cidade. Claro que não deixamos de ir à ilha Coronado, em que a ponte passa ao lado da base da marinha americana, e de onde podemos ver seu monstruoso arsenal de porta aviões, corvetas e etc..

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Na volta a Los Angeles não podíamos deixar de ir a Aneihein, mas não entramos na Disney original. Fomos ainda conhecer Marina Del Rey e a Venice Beach, antes de ir embora para

San Francisco. Em Venice vimos loucuras nunca antes vistas numa praia. Academias ao ar livre, o tradicional basquete nas quadras públicas, skates e corredores, além de bicicletas

olímpicas maravilhosas, numa exposição de pessoas de todos os tipos, sem igual. Muitos malucos, mas também muita gente bonita.

Cidadaça era essa tal de San Francisco nos anos 90. Foi muito lindo poder andar por suas ladeiras, prédios baixos com jardineiras nas janelas, a parte do porto com seus leões

marinhos, suas pontes maravilhosas, aquela baía azul turquesa e seus bondinhos sensacionais, num sobe e desce frenético. Tudo parecia um filme, principalmente porque as

ruas dessa cidade já serviram para vários filmes e séries de televisão.

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Dois fatos muito pitorescos nessa estadia ocorreram com a Andrea. Uma me chateando para irmos ao Havaí, e eu segurando o dinheiro, afinal de contas era pouco, e a nossa

cota de extravagância não era muito elástica. Acabei sentado na Portsmouth Square Plaza, lendo jornal procurando promoções para ir ao Havaí. Achei passagens com ótimo

preço, mas tinha o problema do hotel que nós teríamos que resolver quando chegássemos à Honolulu. Andrea me torrou tanto sobre isso que acabei me entregando ao seu desejo e

comprei a passagem pela empresa Continental. Iríamos ficar quatro dias em Honolulu, nem que fosse na areia da praia...

No final daquele dia, o segundo episódio, eu quase morri de tanto rir. Fomos jantar em Chinatown de San Francisco, outro local característico e imperdível na visita a essa cidade. Ao pedir a comida Andrea, sem saber, pediu uma comida super

apimentada. Não deu tempo de chegar ao hotel e a barriga dela anunciava uma diarreia descomunal. Apressamos o passo e conseguimos chegar ao hotel e corremos para o

quarto. Aí começou o drama mais comédia de todos. A chave não abria a porta. Aí começou o desespero. Desci rapidamente na portaria, só seis andares e com elevador lento, enquanto Andrea ficou sentada no corredor, já em desespero. Uma dificuldade maior de todos funcionários serem chineses naquele local, o que dificultava entender o que falavam em inglês. Lá embaixo não consegui resolver o problema porque a chave reserva estava com a faxineira.

Voltei pelo elevador rapidamente para falar pra Andrea que o problema estava se resolvendo, mas não resolvido, e ela já chorava de dor, e com receio de se sujar totalmente em pleno corredor. Voltei para saber da solução quando então descobriram onde estava a faxineira. Subi com ela no elevador, uma coreana, e ao chegar ao local ela pega um

molho com mais de quarenta chaves e começa a testar. Aí eu caí no chão de tanto rir, pela situação. Andrea morrendo de dor com uma pré diarreia já anunciada, e em evolução, e a

funcionária coreana testando as chaves na porta e sem saber se explicar, mesmo que num inglês precário. Depois de mais de dez tentativas a porta se abriu, Andrea correu para o

banheiro e eu continuei rindo no tapete do corredor. Outra situação muito engraçada e desesperadora foi que tiramos várias fotos durante os dias que estivemos lá, mas ao revelar

nenhuma tinha saído. Sim, nessa época as fotos tinham que ser reveladas. Foi uma correria para fotografarmos tudo de novo nos pontos mais legais em apenas um dia, mas

conseguimos as fotos que mais poderiam registrar essa visita.

Em San Francisco também realizei um sonho, ao comprar uma máquina fotografia automática, ainda mais depois do problema anterior com a máquina normal. Era uma Cannon Rebel, linda, e passou a ser um marco na qualidade das fotos

da viagem, principalmente porque estávamos indo para o Havaí no dia seguinte.


D) Oahu:


Pegamos então o vôo para Honolulu. Um sonho para um moleque do Leblon que tinha sido surfista, e assinado revistas americanas além de ter visto vários filmes desse esporte.

Depois de cinco horas de viagem, sim é muito longe mesmo estando na California, chegamos ao aeroporto, e ao sair da área de desembarque, secretamente, comprei um colar de flores e coloquei no pescoço da “minha havaiana”. Tudo muito legal, mas daí começamos a procurar hotel, que era a minha preocupação, num mural que existia ali no salão de desembarque. Tudo caro e eu só brigando com a minha mulher, colocando terror que dormiríamos nas areias de Waikiki por quatro noites. Mas ela é uma mulher de sorte, e

encontrei um hotel super em conta, na quadra da praia, atrás do Hilton, super bem localizado. Foi fantástico. Hotel bem barato para o que eu esperava, e dentro do orçamento, desde que eu tirasse algumas cidades no nosso caminho até Chicago, o que eu fiz sem nenhuma pena, afinal de contas estávamos em Honolulu.

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Saímos direto para rua e conhecer a praia de Waikiki, passeando pelas redondezas da rua Kalakaua Blv. No dia seguinte fomos alugar um carro para rodarmos a ilha. Tudo

fantástico, e fomos descobrindo lugares maravilhosos e ímpares em beleza. Os morros vulcânicos por toda a ilha se mostravam a cada hora de uma forma mais bonita do que o

anterior. Praias impressionantes como Hanauma Bay, Makapu ; Waimanalo, Banzai Pipeline, Sunset e Waimea Beach. Mergulhar em Sunset e Pipiline, mesmo sem nenhuma

onda naquele dia, foi mais um sonho realizado. Em Waimea aconteceu um evento inesperado, depois de visitarmos o belo parque, a Waimea Falls com flora, fauna e danças típicas, fomos para a praia linda, de areias brancas e um mar maravilhoso. Eu nas areias de Waimea Bay, que sonho. Quando começamos a almoçar o nosso sanduíche daquele

passeio, eis que surge uma família de gansos na praia e correm na direção da Andrea fazendo o maior barulho, atrás do seu lanche. Corremos para dentro da água, com sanduba

na mão, e a família de ganso correndo atrás. Eu rindo demais por mais uma grande façanha acontecida com a minha mulher.

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Completamos a volta na ilha passeando pelas plantações de abacaxis, característicos do local. Andrea queria ir a uma feira, perto do hotel, mas eu estava querendo descansar. Expliquei prá ela como chegar lá, e tempos depois ela volta falando que tinha se perdido. Era na mesma rua do hotel. Realmente ela não tem habilidade nenhuma para se localizar no espaço. Seu cérebro não tem GPS.

Outra história muito engraçada ocorrida foi na primeira vez que fomos a Hanauma Bay. Pegamos o ônibus no centro da cidade. No final da avenida o ônibus parou em outro ponto e uma japonesa perguntou ao motorista, assim que ele abriu a porta, se ele passaria na praia que desejávamos também, em Hanauma, mas com um sotaque quase incompreensível, e

olha que eu estava nos primeiros bancos do ônibus. O cara respondeu num inglês enrolado e a japa não entendeu. Só que já tinham entrado vários japoneses do grupo e até alguns

já haviam sentado. De repente ela fala em japonês e todos começam a descer. O motorista volta a falar, e ela mandou que os caras subissem de novo. E de repente sai todo mundo

de novo, deixando o motorista puto da vida. Depois de muito papo, um havaiano falando pausadamente ela entendeu e deu a ordem para que todos os japas entrassem novamente.

Eram pelo menos vinte pessoas totalmente perdidas, inclusive a guia deles.

Um passeio também muito divertido no día seguinte foi passear no parque de Diamond Head. Um vulcão extinto, bem no canto da praia de Honolulu, em que entramos com o carro

ao centro dele por meio de um túnel. Ao descermos no parque descobri que poderíamos subir por túneis e escadas até chegar ao topo do vulcão. Convenci Andrea e começamos a

subir. Caraca, foram muitos degraus. Chegamos ao topo da montanha mortos de cansados, depois de uns quarenta minutos subindo, mas a vista realmente valeu todo o sacrifício. Um visual de Ala Moana e Waikiki indescritível, mas o sol na cabeça fez Andrea reclamar demais. Só que eu a convencia a fazer essas aventuras por que eu tinha feito a vontade dela de ir até o Havaí, embora internamente eu estava adorando tudo também.

Bom, depois desses dias realmente maravilhosos tive que dar a mão à palmatória, porque a viagem teria sido incompleta sem conhecer o Havaí.


E) Texas:


Agora saímos para uma longa viagem até Dallas, no Texas. Chegamos à cidade às 5:30h, muito cedo para chegarmos na casa de Cammie Ross, outra irmã do tempo de intercâmbio, e que agora morava na cidade com Ricky, um cara que conheci na escola de Hobbs High, quando estudei naquela cidade. Ficamos no aeroporto fazendo hora para não chegar muito

cedo à casa que ficaríamos hospedados, até por que eles haviam acabado de adotar uma recém nascida há dois dias, e estavam super enrolados.

Muito comédia foi a minha ida ao banheiro no aeroporto de Forth Worth. Quando retornei ao salão encontrei Andrea sentada com as malas e falei: Dê, assim que eu a chamo

sempre, os caras estão todos de terno, sapatos caros, roupas de caubóis, pastas 007, pinta de milionários, mas ficam peidando direto no banheiro. Demos risadas da situação, e

cada cara que saía todo almofadinha do banheiro brincávamos que tinha cara de peidão, mas realmente mandavam brasa sem nenhuma vergonha.

Chegamos na casa da Cammie perto de 8h, e qual não foi nossa surpresa. A criança tinha três dias de vida, e foi muito legal porque na realidade eu fui o familiar que primeiro

conheceu a menina. As avós e outros irmãos só poderiam ir na semana seguinte. Ficamos apenas um dia para passear por Dallas e arredores, sem deixar de ir ao Stadium do Dallas

Cowboys, é claro, e em seguida fomos voando para Midland, no sudoeste do Texas, onde Horace e Katheleen, meus pais de intercâmbio, nos esperavam, para nos levar até Hobbs.


F) Hobbs, NM:


Estava eu voltando, depois de 14 anos à cidade em que vivi por um ano. Foi fantástico rever todas as três famílias, colegas de escola, pessoas do Rotary, professores na High

School e passear pelos locais que eu gostava, e agora apresentando tudo para a Andrea.

Vários almoços, jantares e passeios, inclusive até as cavernas de Carlsbad, uma cidade perto de Hobbs, que tem um rio usado como praia no verão pela população de várias

cidades, daquele deserto.

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Esse relato é importante por que a cidade que morei é totalmente seca. Visitar essas cavernas é um passeio imperdível. Saímos antes do entardecer, já que

nessa hora ocorre o show da revoada de morcegos, diariamente, e Andrea com certeza não iria querer vivenciar isso. Dias excelentes no final do verão, em pleno deserto

americano. Nessa estadia ainda visitamos as outras famílias com quem eu havia vivido na época do intercâmbio, como a família dos Burkes, e a do Salvador Armendariz. No final da visita de três dias à cidade que fiz intercâmbio, ainda nos levaram a Lubbock, cidade no Texas onde fica a famosa Texas Tech University, e no final do dia pegamos o avião para Chicago, já que estava na época de começar a minha especialização. Como havíamos retirado algumas cidades para podermos ir ao Havaí, era hora de ir trabalhar.


G) Chicago:


Chegamos em Chicago e a recepção foi meio fria. O chefe da minha especialização foi nos pegar no enorme O'Hare Airport, que é a base da United Airlines. Logo de cara um problema, afinal de contas a bolsa era para uma pessoa e eu fui com a Andrea, mas isso ele já sabia. O carro do Dr. Dias era um esportivo último tipo, e quase não coube eu, Andrea e as malas. Como iríamos passar o inverno numa cidade super fria tínhamos levado, e comprado durante nossa viagem prévia pelos Estados Unidos, roupas apropriadas para tal clima que nos esperava.

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O studio que ficamos era muito interessante, num prédio de três andares, com salão, cozinha e banheiro, com um bom closet. A parte de máquina de lavar e secar roupa ficava no basement do prédio, onde tínhamos quatro máquinas para todos os moradores do prédio, e funcionava com moedas. O principal era a localização, cerca de duzentos metros do Children's Memorial Hospital. Além dessa vantagem, poder ir a pé ao trabalho diariamente, tinha parques próximos, a Universidade Du Paul e principalmente o Lake Michigan. Lugares lindos e ótimos para passear e curtir uma cidade lindíssima.

Passava o dia inteiro no hospital, e quando o inverno realmente começou eu só via o sol nos finais de semana, afinal de contas saía de casa às 6:30h, e voltava às 19h, sempre sem a claridade solar. No centro cirúrgico do hospital não tinha janelas. Aproveitávamos os finais de semana para conhecer a cidade, seus parques, museus, shows públicos e à

partir de outubro o fantástico time da NBA do Chicago Bulls.

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Vale lembrar que nesse ano, de 90/91, foi o primeiro dos seis títulos ganhos por Michael Jordan e sua trupe. Foram jogos maravilhosos. Eu só não consegui ver o jogo contra os Lakers, que ocorreu no dia de Natal, por estar totalmente vendido antes mesmo de eu chegar na cidade. A grande maioria dos jogos eu assisti em pé, no topo do ginásio, já que o preço era bem mais barato. Pude ver jogos fantásticos e acompanhar esse primeiro título, embora nas finais eu já tivesse voltado ao Brasil.

Times como Boston com Larry Bird, Detroit com todos os bad boys, San Antônio com o grande David Robinson, os Knicks com Ewing e etc. Eu como ex jogador de basquete e

apaixonado por esse esporte fui sorteado com esse momento único na vida de um fanático basqueteiro. O ginásio é localizado numa parte mais afastada do centro e para eu ir pegava dois ônibus na ida e na volta. O centro da cidade após o jogo, como era um horário noturno, sempre muito vazio e na época de frio parecia meio fantasma, com pouquíssimas

pessoas andando pelas ruas, ou no ponto de ônibus. Mesmo com algum risco de assalto, conforme os médicos residentes do hospital falavam, eu não perderia a chance de ver

excelentes jogadores de tão perto. Chicago na realidade é uma New York, só com americanos.

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Impressionante a quantidade de museus maravilhosos que fomos, mais de uma vez, durante o período vivido lá, além de shows de Blues que sempre ocorriam nos sábados à tarde na biblioteca pública, e grátis. Muitos shoppings na região central, além da belíssima e caríssima Michigan Avenue, uma das ruas mais charmosas do mundo com seu comércio

elitizado ao extremo. Sempre vínhamos andando para o centro, acompanhando a

beirada do lago Michigan, algo em torno de três quilômetros de casa, mas realmente virou um desafio depois que começou a nevar e a fazer um frio inimaginável.

Perto de nossa casa ainda tinha o Lincoln Park, com um zoológico infantil, cheio de filhotes que eram protegidos do frio e com cuidados especiais antes de serem levados para os

zoológicos com animais adultos. Era uma festa, principalmente por que tivemos a oportunidade de ver nascimentos de elefante, girafa, hipopótamo, pássaros e até

pinguins. Ao lado desse parque tinha um jardim botânico, dentro de uma estufa, que produzia uma floresta tropical muito interessante.

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Muitos estádios também fomos visitar, adoro visitar locais esportivos,

como o Soldier Field, campo do Bears, time de football, além disso fomos ao tradicional estádio do Chicago Cubs, do baseball, que era muito perto de casa, e vivenciamos o apagar das luzes do Comiskey Park, do time de baseball do Chicago White Sox, que

construiu naquela época outro estádio e implodiu o antigo.

Um fato muito peculiar foi quando decidimos ir a uma feira de roupas num bairro perto de casa para comprarmos mais barato. Para irmos de ônibus teríamos que ir ao centro da

cidade, trocar de ônibus, além de descer dele um pouco longe do local desejado, tendo que andar algumas quadras. Eu, como gosto de mapas, percebi que saindo de casa e

cruzando algumas quadras diagonalmente chegaríamos bem perto caminhando. Convencer a Andrea foi fácil, mas na caminhada é que ficou estranho. Andamos pela nossa rua, e

conhecemos o posto de Bombeiro, que quase todos os dias, muitas vezes na madrugada, nos acordava com seus caminhões com a sirene e freadas frequentes na esquina da

rua onde vivíamos. Cortando o caminho então descobrimos que estávamos andando no meio de um complexo de prédios da classe pobre, com pessoas muito mal encaradas, e todos olhando os dois loucos, branquelos e cheios de casacos perdidos naquele local. Muitos negros, chicanos, com seus grandes rádios nos ombros, correrias de crianças, skatistas e ciclistas além de sujeiras por todo lado, causando uma má impressão e claro, muito medo na Andrea. Pior é que depois de cruzarmos tudo isso, ainda andamos por baixo de trilhos de trem suspenso, piorando muito mais a situação e a preocupação, lembrando filmes de bandidos de cidade no cinema. Nessa região existia muito lixo, e a rua fica mais

escura que o normal. Sobrevivemos, e conseguimos chegar à feira, mas a volta foi totalmente de ônibus e bem mais longa, porém muito mais segura, sem falar no esporro tradicional que recebi.

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Devido ao tempo que passaríamos na cidade, Andrea queria arrumar uma atividades já que só eu tinha trabalho, e tomava o dia todo. Pediu uma ajuda, e eu prontamente arrumei uma

vaga para ser voluntária no mesmo hospital que eu estava, mas no setor de oncologia pediátrica. Não passou nem na porta de entrada, e mais um esporro que coloquei na minha conta...

Acabou fazendo aulas de inglês na biblioteca da Du Paul University, com auxílio de várias senhoras voluntárias, que dão ajuda para estrangeiros na lapidação do inglês, caso da

Andrea, ou mesmo ensinando o beabá da língua pátria para estrangeiros que precisassem. 

Outra curiosidade: um dia nos informaram na véspera que uns funcionários iriam fazer consertos nos smoke alarm de todos os apartamentos do prédio. Eu como sempre saí cedo, e Andrea ainda estava em casa quando eles chegaram, e pior entraram direto porque tinham as chaves de todos os apartamentos. Ela tomou um susto com os caras dentro de

casa, e disse que teria que sair, e eles apenas disseram tchau, pode sair que depois a gente fecha a porta. Ela não está acostumada com tal situação, imagina algo igual no

Brasil. Foi até a sua aula de inglês e perguntou aos professores se isso era normal de acontecer nos EUA. Eles falaram que acontecia algumas vezes, mas ela com medo de

sumir nossos dólares e a máquina de fotografia novinha voltou correndo pra casa, e ainda teve que responder pros funcionários o por que tinha voltado tão rápido, e inventou que

o professor não tinha ido dar aula. 

Outra coisa muito diferente foi que nos dias 24 e 31 de dezembro eu trabalhei normalmente até as 20h, coisa impossível de acontecer aqui no Brasil. Para os americanos isso não muda muito porque eles festejam o almoço de Natal no dia 25, e o ano novo é um feriado sem muita festa, tirando uns poucos lugares específicos como a babel de New York.

Dias antes do Natal tivemos uma nevasca impressionante, inclusive não precisei trabalhar por falta de condições dos funcionários e pacientes chegarem ao hospital. Nesse dia

saímos à noite para avaliar e fotografar as lindas imagens de muita neve nas ruas e praças, mas o susto foi grande ao vermos que estava -40ºC, e estávamos andando na rua. Na

realidade isso é a sensação térmica por causa dos fortes ventos que assobiam pela cidade de Chicago, inclusive sendo conhecido por Wind City. 

Outro fato inusitado foi que em pleno inverno Andrea saiu para fazer as compras da semana, durante a tarde, enquanto eu estava no hospital. Foi num supermercado há quatro

quadras do apartamento, cheia de casaco, luvas, gorro e cachecol. Depois de tudo reparou que tinha dificuldade em carregar as sacolas com as luvas, mas já tinha pago e se não

levasse estaríamos num sufoco enorme por não termos dinheiro para mais compras para aquela época. Daí teve que tirar as luvas para segurar as alças das sacolas, e durante o

caminho seus dedos estavam com dor e começaram a ficar roxos nas extremidades, com dificuldade de circulação por causa do frio intenso. Chegou à casa chorando e foi aquecer

a mãos, que aos poucos retornaram ao normal. Depois ainda tomou uma bronca minha porque deveria me esperar a não correr riscos à toa. Vários avisos eram dados na televisão

devido ao frio extremo naqueles dias, e que as pessoas deveriam evitar de sair.

Na volta ao Brasil o dinheiro já era pouco, primeiro pela bolsa apertada para duas pessoas, e depois pelas compras feitas durante todo o período. Teríamos que chegar em Miami para

voltar, e sofrer na Linhas Aéreas Paraguaias, mas isso era o preço a ser pago pelo período de experiência. Valia tudo. Resolvemos voltar de trem, isso mesmo Amtrack de Chicago

até Miami. Como tinha um local de pernoite na casa da família de intercâmbio do meu irmão Fábio, em Maryland, onde ele havia ficado nos anos 80, resolvemos fazer dali o nosso ponto base no meio do caminho. Nos despedimos dos amigos de Chicago e fomos para a Union Station, no centro da cidade, a mesma em que foi filmado The Untachabels.

Muitas bagagens, mas como era nossa volta para o nosso país nem ligávamos para carregar toda bagagem. O mais estranho foi a falta de consideração pelo meu preceptor da

especialização, que pediu para eu deixar a chave embaixo do tapete da porta que ele passaria lá outra hora. Foi um adeus seco.

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Se alguma vez tiver a chance de visitar Chicago não perca a oportunidade. Uma cidade vibrante, linda, super bem distribuída, cheia de pontos de diversão e locais para visitar.


H) Washington, DC


Pegamos o trem e viajamos até chegar a Washington. O mais característico de viajar de trem nos EUA é poder ver as belezas das paisagens do interior do país, coisa impossível

nas viagens de avião e mesmo muitas vezes pelas highways. Na linda estação central de Washington, DC, os carregadores de malas ficam com a balança de mão. Eles pesam sua

bagagem, e se pesar mais do que vinte quilos permitidos para eles, pelo sindicato, simplesmente não pegam, e você é obrigado a carregá-la sozinho. Imagina se as nossas

bagagens não pesavam mais que 20 kg? Fomos de metrô, com toda bagagem até Bethesda, em Maryland, onde ficamos muito bem hospedados na casa que meu irmão Fábio ficou no período de intercâmbio dele. Visitamos tudo na capital americana, com lugares realmente muito lindos, inclusive vários museus, monumentos, o hospital da Marinha e o Congresso Nacional. O centro político dessa cidade também

é imperdível, lindo e de fácil acesso, desde que não seja uma época muito fria.

 

I) New York


Depois tiramos três dias para visitar New York, um sonho de nós dois. Para baratear, já que tínhamos o passe para usar o trem da Amtrack por trinta dias, ficamos na base de Maryland

conforme relatado antes, e íamos cedo para a capital do mundo e voltávamos à noite. Saíamos as 6:30h, bem cedo, e chegávamos de volta em Washington às 22h. Impressionante a quantidade de pessoas que fazem esse trajeto de trem

diariamente. No primeiro dia fizemos um passeio para toda a parte sul da Penn Station, com o Madison Square Garden ao lado, e fomos até a Estátua da Liberdade, andando, e todos os bairros interessantes, como Soho, Times Square, Battery

Park, Village, Chinatown, Little Italy e etc. Também fomos a ponte do Brooklin. Nos dias seguintes, fomos para a parte norte, pegando o Central Park, museus, ONU e o comércio

forte da ilha. Os dias seguintes, com o vai e vem até Washington, em New York foram de muita caminhada e ótimos passeios, conhecendo todos os pontos importantes

para qualquer turista, até porque embora fosse final de março o clima estava muito bom. Esse foi o fator principal já que foram dias muitos lindos e de pouco frio, facilitando bastante a caminhada, e como caminhamos, ufa...

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Não tem muito o que falar de New York, tem que se sentir lá, e viver as atrações que aparecem em cada esquina. É uma cidade de muita vida, dia e noite, com locais para serem

descobertos, e também lugares já consagrados que não podem ser deixados de lado.

É um local que deve ser voltado algumas vezes, embora eu prefira sempre um lugar novo a voltar a local já conhecido.

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Continuamos a viagem de trem até chegar a Miami, passando por várias paisagens diferentes, numa viagem muito linda, mas cansativa. Chegando ao Rio, depois de quase um ano fora, após a alegria de ver os familiares, nos deparamos com uma greve dos lixeiros na cidade, uma cidade imunda, dando uma enorme vontade de voltar para a magnífica cidade de Chicago imediatamente.

 
 
 

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