Paraíso Venezuelano
- ctbretas
- 1 de ago. de 2024
- 4 min de leitura
Lucas, meu filho, tinha um ano e dois meses no verão de 1996
quando eu e Andrea resolvemos passar sete dias descansando.
Deixamos a criança (que já havia vingado), com meus sogros e
uma babá em Petrópolis. Na época, não tínhamos ideia de onde ir.
Me interessei por uma propaganda no jornal sobre Isla de
Margarita, no Caribe Venezuelano. Do despertar até entrar no avião
foi um pulo.
Saímos direto para Caracas. Permanecemos quatro horas num
aeroporto sem nada para fazer. Sem conforto e pior, cheio de
policiais armados até os dentes. A época nem era de golpe militar
ou mesmo da atual ditadura socialista. Passar na alfândega era
similar à revista numa penitenciária, uma situação incômoda.
Bebida e comida eram difíceis de se comprar naquele local.
Fizemos a escala e fomos pra Isla Margaridas. Um arquipélago muito interessante. Chegamos a Porlamar.
Nessa época a internet era precária aqui no Brasil. Imaginem sites
de viagem para a Venezuela. Nenhuma pesquisa prévia e tudo
virou uma surpresa. Porlamar era uma cidade movimentada com
um bom comercio e freeshopping. Cassinos abertos 24h por dia,
como sempre. Um bom movimento de turistas, inclusive por causa
de alguns transatlânticos que faziam ali uma parada estratégica
para seus cruzeiros pelo Caribe.
Como qualquer ilha, o que não faltava era praia. Nosso hotel, por
sinal muito confortável, ficava dentro de uma delas. Ali passei por
maus momentos, embora de muito interesse. Fui andar de parasail
preso numa lancha, super seguro. Mas eu sozinho naquele
paraquedas, saindo da lancha em movimento e subindo sozinho (já
que Andrea pipocou nesse passeio), foi algo inenarrável. Cada hora
eu estava mais alto, já vendo as gaivotas de cima e curtindo um
silencio ensurdecedor. A lancha mínima lá embaixo e a praia cada
vez mais longe. Valeu a pena, carrego essa experiência comigo até
hoje, mas não posso dizer que foi agradável, a não ser depois que
retornei são e salvo à lancha.
Fomos em várias praias, sendo que a do El Yaque era um centro
fantástico de windsurf e kitesurf, com várias pranchas rodando em
velocidades estupendas pelo excesso de vento naquele local.
Impressionante que tínhamos até uma nuvem de areia constante de
quase 20cm do chão, tal era a força dos ventos naquele local. Tinha
uma estrutura turística muito boa, com aluguel de cadeiras,
barracas e muitos bares e hotéis. Outra praia maravilhosa que
passamos praticamente todo o dia foi a de Parguito, também com
ótima estrutura turística.
Nos outros dias, rodamos a ilha aproveitando as várias praias
existentes, umas muito boas e outras nem tanto, mas o que
chamava a atenção, naquela época, era o povo muito pobre e
pouquíssimos milionários. Classe média mesmo, só nós, turistas.
Como eu adoro um supermercado (naquela época já se viam
produtos de extrema qualidade) e por ser uma cidade freeshopping,
com produtos simples ao lado, e até mesmo ausência de vários
deles nas prateleiras. Outra coisa que chamava muito atenção era a
quantidade de grades no comercio, sempre sinal de roubos
frequentes.
Nesses passeios, tive a oportunidade de conversar com pessoas do
local e agentes de turismo que tentavam nos vender pacotes de
divertimento. Os mais comuns eram passeios de barcos, scub dive
e um que me balançou. Era uma viagem de avião, num daqueles
bem pequenos, para um arquipélago conhecido como Los Roques.
As fotos eram incríveis. Era um voo que sairia cedo e voltaria no
final do dia. Comprei mesmo sem perguntar a Andrea se ela estava
a fim, afinal já conhecíamos a ilha, suas praias e ela detestava ficar
passeando de barco por lhe causar enjoos frequentes.
Conversamos à noite durante o jantar, só para afinarmos a situação.
Cedo já estávamos no aeroporto. Chegou o piloto nos levando ao
avião bimotor. A cara da Andréa foi a de que seus pés não
levantariam voo dali nem à força.
Foi engraçado por que naquela
época esse arquipélago, que é um Parque Nacional da Venezuela,
não tinha hotéis e nem pousadas. Portanto, os aviões levavam
mantimentos para os poucos moradores de lá. O piloto começou a
tentar dividir o peso do avião, passando eu ora prá frente, ora prá
atrás, até conseguir o equilíbrio para levantar voo. No final, Andréa
foi de copiloto e eu com as bagagens. O voo foi normal para aquele
tipo de avião, voando baixo e com uma vista maravilhosa,
entremeada a períodos de turbulência que nos deixavam apenas
como os assistentes do drama. Emoção pura, mas valeu a pena. Ao
se preparar para aterrissar na maior ilha do arquipélago, a vista era
deslumbrante. O mar do Caribe do jeito que sempre sonhamos ver,
lindo e cristalino, lá do alto.
Descemos na pista de pouso (nunca que aquilo poderia ser
chamado de aeroporto) e fomos direto para um barco à vela. Nesse
local, antigamente, só havia alguns barcos para você ficar
hospedado ou ficar passeando. Só em algumas partes das ilhas
podíamos andar a pé. Mergulhar em qualquer lugar era permitido,
mas deveríamos ter cuidados com os corais. Realmente, uma pintura aquele mar, suas ilhas, suas baías, seus peixes coloridos, conchas, corais e a pouca vegetação verde. O barco parou em
algumas praias para mergulhos e depois almoçamos no barco
mesmo com refrigerantes, água e cerveja liberadas. Um sol de
rachar qualquer coco, mas uma paz e um visual deslumbrantes.
O dia passou muito rápido e, ao final do mesmo, estávamos
entrando novamente naquele aviãozinho apertado e saculejador
para retornar a Porlamar. Na subida do avião, outra vez a chance
de ver de cima o paraíso no meio do mar venezuelano, um local
que não se deve perder a oportunidade de se visitar. Hoje, com a
crise institucional que vive o país desde 2016, é melhor esperar
outra época para se aventurar. Pelo menos várias pousadas já
existem no arquipélago e os turistas podem ficar vários dias melhor
acomodados nesse paraíso. Já recomendei a alguns amigos e foi
um sucesso.
No dia seguinte, voltamos para Caracas e, novamente, aquele clima
de terror se mostrava presente. Mais algumas horas no saguão.
Agora com mantimentos nas mochilas e água para refrescar
esperando o retorno para casa com a sensação de satisfação
totalmente plena e a vontade enorme de rever nosso filho...





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