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Patagônia Central Argentina, animal...

  • ctbretas
  • 28 de fev.
  • 9 min de leitura

Também conhecida pela região de Chubut, essa parte da Argentina sempre me causou curiosidade por sua grande extensão e pela diferença de paisagens entre as regiões que a compõe. É uma parte pouco lembrada pelos brasileiros quando planejam suas férias, mas tem tudo para ser um passeio muito legal já que o que não faltam são atrações, tanto em relação à vida animal como à  botânica. 

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Infelizmente, a época que surgiu a oportunidade não era a melhor, mas pelo menos também não seria no inverno gelado da região. Falo isso porque como adoro viagens de carro, não me arrisco a dirigir em pistas com neve por não ter nenhuma experiência sobre os perigos que podem ocorrer.

Então viajamos em meados de maio, época ainda com temperaturas amenas e pouquíssima chuva. Dificuldade maior sempre é arrumar uma época que concentre a maior parte das atrações. Por ser tudo natural, não tem muita receita de bolo. Existe a época específica para os pinguins, leões marinhos e baleias, época de neve para a estação de esqui em Esquel e a época das flores entre o inverno e o verão nos parques florestais. Mesmo assim, achei bom viajar no outono, muito mais pelas cores do céu e das florestas. Um dos motivos principais era a Andrea, minha mulher, fotógrafa de mão cheia, poder tirar proveito com fotos magistrais do local.

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A gente com o tempo aprende a usar as milhas, porque têm viagens que são absurdas, como essa, por exemplo. Além de custar uma quantidade grande em milhagem, comum nas Aerolineas Argentinas, ainda ofereciam opções de horários malucos que inviabilizavam a rota. Tinha uma opção de viagem com quase 30h de espera em Buenos Aires.

O que você tem que colocar na sua lista são as suas metas para tal lugar a ser visitado.  Teria que voar até Buenos Aires e trocar de aeroporto. Os voos para Trelew, cidade inicial do passeio, saem do aeroporto Aeroparque, bem no centro da cidade. Uma situação vivida quando o grupo da Caverna voltou de Ushuaia e foi uma correria só. Como teríamos mais tempo entre as conexões, fiquei mais tranquilo. Até poderia jantar em Buenos Aires, antes de pegar o avião. Um show imperdível para quem adora um “ojo de bife”, como eu.

Fundamental para quem viaja fora das altas estações para locais pequenos, são os passeios característicos. Muitas coisas não funcionam o ano inteiro. Nessa região, por exemplo, como eu faço a grande maioria dos passeios por minha conta, não cheguei a ter problemas importantes, mas várias empresas estavam com suas programações paradas e alguns locais específicos fechados pela baixa temporada.

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A viagem de ida foi meio intensa, afinal de contas, para não perder o primeiro dia de viagem, preferi um horário em que viajaríamos a noite inteira, inclusive com a escala na capital argentina, mas chegaríamos em Trelew às 7h da manhã. 

Andrea estava preocupada com o tipo de avião que seguiríamos a viagem desde Buenos Aires porque não gosta de aviões de pequeno porte. Falei para ficar relaxada. Tinha visto uma página no Facebook da família do piloto, onde a título era : " Todos da família apoiam o comandante Javier Dias", com cinco curtidas. Pelo menos, a família confiava no piloto. Deu uma relaxada com brincadeira, mas o avião foi tranquilo, e a viagem ótima.

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Ok, foi um sacrifício danado porque só consegui dormir no avião. Fiquei acordado na espera da conexão por quase cinco horas enquanto Andrea dormia no chão do aeroporto Aeroparque. Na chegada a Trelew, enquanto eu esperava a esteira trazer as malas, Andrea foi ao banheiro. Eu, de longe, observava ela, ainda sonada, entrar no banheiro masculino. Já ria muito pelo engano dela. De repente, ela sai correndo, após perceber seu equívoco. Muito engraçado. 

Cedo, sete horas, eu já estava dirigindo o carro. Vale lembrar que nessa região o sol nasce, durante essa época, às 8:30h. Um breu total. O aplicativo do “maps me” funcionando tranquilamente. Nossa salvação, como sempre. Fomos direto para Ponto Tombo, uma colônia de pinguins que no auge da temporada concentra mais de um milhão dessas aves. Falta de informação é uma dificuldade a mais. Li, em vários sites, que essa época não era a ideal para ver um milhão de pinguins na praia, como ocorre entre outubro e abril. Em nenhum dos sites, porém, havia o alerta de que estaria fechada à visitação. Soube apenas ao chegar em frente ao portão. Mas, para não desanimar, caímos na estrada e fomos para Rawson, uma pequena cidade onde o rio Chubut, o mais importante da região, corre toda a sua extensão e deságua no oceano Atlântico. Um pier enorme construído pelo homem, todo cercado por pedras, faz o local ficar primoroso. Além de muitos pássaros no local, também vimos várias famílias de leões marinhos brincando com as ondas que tentam entrar na foz do rio.

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Chegamos em Puerto Madryn loucos de fome, até porque já passava das 15:00h. Conseguimos um restaurante em frente à praia. Por falar nisso, o nosso apart era nessa mesma área, em frente à bela baía da cidade. Complicado era entender o horário do comércio. Lojas que abrem às 8, às 9 e às 10h. Pior, tem um horário de sesta, que varia entre 13:00h às 15:00h, 14:00 às 16:00h, e algumas que só voltam a abrir às 17:00h, fechando às 22:00h. Nada de padronização para “facilitar” a vida do turista. Apagamos cedo. Eu estava viajando, dirigindo e não dormindo por mais de vinte e quatro horas.

A vista do nascer do sol da janela foi marcante. Uma baía linda, águas calmas e muito azuis. O sol nasceu abóbora e à essa hora já estávamos acordados e tirando fotos. Nesse dia fomos para Península Valdez.

O que eu achava que fosse apenas uma situação, se mostrou ser fato corriqueiro nessa região. Estradas com retas intermináveis e uma vegetação rasteira e árida demais. Diferente e bonita. O bom é que com um movimento pequeno, na maioria delas, as ultrapassagens ficam fáceis. Se você gosta de uma curva, esqueça!! Aqui não vai encontrá-las. 

A primeira parada na Península Valdez foi na cidadela de Ponto Pirâmides. Uma cidadela mesmo, no meio de uma baía linda onde em um período do ano, mais perto do verão, vira um local de repouso para grupos de baleias. Muito comum avistá-las, mesmo sem necessitar estar em barcos. Esse é o passeio mais comum do local. Tem também lugares para ver leões marinhos e alguns pinguins muito próximos da estrada. Vale lembrar também que é o único lugar da Península com posto de gasolina, portanto, se cuide e abasteça.

Lugar único com longas retas em estrada de rípio até alcançar Punta Norte, um farol onde se observa as baleias orcas com frequência. No caminho, inúmeros guanacos, emas e tatus, cruzando a estrada de terra. Vale lembrar que embora de terra, as estradas são muito bem preservadas. Sem os tradicionais buracos presentes nas nossas estradas. Segundo o policial do farol demos azar pois havia passado duas baleias enormes poucos minutos antes, bem perto da orla.

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Continuamos descendo pelo litoral até as canaletas, local de elefantes e leões marinhos, além de pinguins. Em algumas épocas, pode acontecer de você ver as orcas chegarem na areia da praia e pegarem as focas alimentação. Não cheguei a ver tal desastre, ainda bem... O local é lindo, com vários tons de verde e azul se misturando e formando uma paisagem única.

Nessa viagem, demos carona, no meio do nada, para um casal de poloneses que tiravam fotos. Já estavam cansados de andar e sem água. Comentaram que não saberiam o que fazer se não os tivéssemos ajudado. Provavelmente ficariam por ali até alguém aparecer e, provavelmente, ninguém apareceria. Nessa época, poucas pessoas visitam a Península por ser baixa temporada. Talvez algum guarda florestal pudesse ajudá-los, se dessem sorte. Acabamos deixando esses loucos em Ponto Piramides, onde estavam hospedados e fomos embora para nosso hotel. O dia seguinte seria punk, direção por quase 700 km.

Começamos cedo, saindo de Trelew, a cidade dos dinossauros, e a primeira parada foi em Gaiman, a capital celta da região. Cidade muito ajeitada, organizada, com arborização interessante e várias casas de chá. Vale muito uma parada para avaliar a arquitetura local e, se possível, claro, experimentar os chás.

Depois disso, muita reta até chegarmos em Los Altares. Começamos a andar no meio de montanhas de pedras lindas, o rio Chubut cortando-as com sua água clara e azul. Montanhas enormes, recortadas embelezavam demais o nosso caminho entre elas. Muitas fotos dessa região. Depois disso, além de novas retas, um vento absurdo. Acabamos parando para comer em Paso de Índios. Interessante que nesse lugar comemos melhor do que no badalado restaurante da Praia de Puerto Madryn. É um pequeno povoado onde pude encher o tanque e continuar viagem. Nesse local, vimos uma característica que nos chocou. Uma caminhonete cheia de coelhos mortos para trabalharem sua carne e seu pelo. Durante qualquer viagem existem locais muito curiosos, características tão diferentes da nossa rotineira vida de cidade brasileira.

Nessa área da estrada, encontrávamos muitos guanacos, coelhos, cavalos, ovelhas e bois. Imagens sensacionais foram capturadas pelas lentes profissionais da Andrea.

A viagem estava muito linda, embora cansativa. Começaram a aparecer paisagens com árvores, montanhas, o rio Chubut ao lado e muito verde. Foi assim até finalmente chegarmos perto de Esquel. Já avistávamos as montanhas com seus picos nevados. Pequeno passeio pela cidade e tombo, dormir, porque a viagem durou o dia todo.

Acordamos com temperatura negativa, mas um sol muito bonito. Fomos a vários locais turísticos como o Lago Zeta, La Hoya onde tem as pistas de ski da região e na estação de trem. Infelizmente, La Tronchita, um trem à vapor, só sai aos sábados nessa época do ano. Faz um passeio de duas horas pela bela região. Não demos sorte nessa aventura.

Resolvemos então ir a Treveling, cidade vizinha com características celta. Várias casas de chá. Conseguimos fazer vários passeios pelos seus arredores e acabamos almoçando na melhor vinicultura da região, Viñas Del Nant y Fall, com um vinho Pinot Noiar premiado e de ótima qualidade. A comida, feita pela mãe do italiano, dono do local, era maravilhosa, tanto a entrada de empanadas, como os capeletis de truta. Tudo fantástico, incluindo o vinho e a visita às plantações.

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Depois fomos visitar as cachoeiras Natual Luft e o sistema de energia local, hidroelétrica Futaleufú. Lagos enormes e barragens tão grande quanto. Mas para quem já visitou Itaipu essa nem é tanta coisa assim. Nesse passeio chegamos a um passo da fronteira com o Chile...

No dia seguinte, acordamos com o sol, quer dizer, depois de 8:30h. Cedo e a névoa ainda era muito forte. Fomos devagar pelo caminho para o parque Nacional Los Alerces, esperando o sol sair. Quando já estávamos no parque, o dia ficou lindo demais. São locais mágicos, com vários tipos de vegetação, alguns lagos azuis e outros verdes, montanhas com neve eterna em seus picos, muita arborização e muita beleza.

Numa parte da rota, saímos do carro para um passeio em que somos obrigados a cruzar por uma linda ponte pendente no Lago Vierde, passarela del Rio Arrayanes, fazendo contato com a rodovia. Entramos numa trilha até alcançar o Porto Chucao, onde saem barcos para passeios pelo belo Lago Menendez. 

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Nesse local, fiquei quieto, mas vi as placas logo na entrada e na volta comentei com Andrea que ainda bem que tudo tinha corrido bem. Como assim, disse ela? Perguntei se não tinha lido a placa? Kkkkkkkk Mostrei então para ela a placa que dizia que embora não fosse comum, existia a possibilidade de vermos pumas, na região. O cartaz avisava que, nesse caso, o individuo deve ficar parado e olhando para o animal. Nunca tirar os olhos do bicho. Caso ele viesse na sua direção, que gritasse e gesticulasse com as mãos acima da cabeça. Se mesmo assim o animal avançasse contra a gente, que lutássemos ferozmente. Kkkkkkkkkkk. É irreal um aviso desse tipo, mas totalmente verdadeiro. Ela quase me matou quando mostrei a placa. 

Rodamos o parque inteiro até a cidade de Cholila, passando por vários locais lindos pelo Lago Rivadavia e voltamos para Esquel no final da tarde, quando o frio já estava de rachar.

Dia seguinte, com bastante geada, partimos para dar uma volta pelo norte da região. Nesse caminho, fomos ao Lago Epuyén, pra mim o mais lindo de todos, além de visitarmos chácaras com plantações de frutas vermelhas, típicas de El Hoyo. Impressionante o gosto dos morangos, doces demais. Muita framboesa, amora, raspberry e até nozes. Valeu muito a pena. Por aqui também vimos muitos cavalos, ovelhas e bovinos soltos em estâncias enormes, por toda a estrada.

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Acabamos almoçando em El Bólson, a maior cidade dessa área e aproveitamos para visitar o Lago Puelo, muito lindo e o parque mais organizado na região. Na volta, um entardecer maravilhoso e mais fotos.

O dia todo passeando deu fome e descobrimos uma torta de maçã com sorvete de creme e calda quente de framboesa. Maravilhosa e irresistível!!! Bem no centro de Esquel. Isso era o que podemos chamar de fechamento de uma viagem sensacional em beleza natural.

Agora, no dia seguinte, após o café da manhã, voltamos para Trelew, em mais 700km, com várias retas, paisagens fantásticas e muitas paradas obrigatórias para mais fotos. Como o trânsito é muito leve, quase não cruzamos com carros e caminhões na estrada. Era fácil parar e recuperar esse tempo andando sempre a mais de 120km/h, nas longas retas do estado de Chubut.

Mais uma viagem terrestre. Como sempre tenho o costume de alugar carro no exterior, o surpreendente e não termos visto nenhum acidente nessas estradas argentinas. Impressionam os acidentes que vemos aqui no nosso Brasil, coisa que não vejo no exterior, nem na quantidade e nem na gravidade que vemos por aqui.

Agora era aturar os vôos e a escala para o retorno pelas Aerolíneas Argentinas...


 
 
 

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